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Rapper Oruam é indiciado por associação ao tráfico e enfrenta nova crise com a Justiça

O rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido artisticamente como Oruam, 25 anos, tornou-se novamente foco de investigação policial no Rio de Janeiro. O artista, apontado como uma das principais revelações do trap-funk nacional desde o sucesso do single “Invejoso”, de 2021, foi indiciado pela Polícia Civil por associação ao tráfico, resistência, desacato e dano ao patrimônio público. A medida ocorreu após operação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) deflagrada no início de 2025, quando agentes cercaram sua residência na Zona Oeste da capital fluminense.

A ação tinha como objetivo cumprir mandado de apreensão contra um adolescente identificado como Menor Piu. Vídeos divulgados pelo próprio cantor nas redes sociais mostram viaturas posicionadas em frente ao imóvel, além de registros do confronto que se seguiu. Segundo o inquérito, Oruam teria reagido à abordagem lançando objetos contra os policiais, proferindo ofensas e escapando do local. Horas depois, o músico usou plataformas digitais para relatar a ocorrência, o que reforçou a visibilidade do caso.

Esse não é o primeiro episódio que coloca o artista em conflito com as autoridades. Em fevereiro de 2025, ele havia sido detido por direção perigosa ao realizar manobras arriscadas diante de uma viatura da Polícia Militar. Ainda na mesma semana, voltou a ser conduzido à delegacia sob acusação de facilitar a fuga de um foragido e de manter uma arma sem registro em sua casa. Nos dois episódios, a Justiça autorizou a soltura mediante pagamento de fiança e assinatura de termo circunstanciado.

O agravamento das acusações, agora com a inclusão do crime de associação ao tráfico, altera o panorama jurídico do cantor. A investigação apura se Oruam mantém ligações com organizações criminosas que atuam em comunidades cariocas. O interesse dos investigadores é potencializado pelo histórico familiar do rapper, que menciona o pai, conhecido como Marcinho VP, em diversas composições. Embora as letras façam referência à vivência nas favelas e à tentativa de superação, promotores avaliam se há elementos que indiquem participação efetiva do artista em atividades ilícitas.

Impacto sobre carreira e contratos

Enquanto o processo avança, a agenda profissional de Oruam sofre ajustes. Produtoras responsáveis por festivais e marcas patrocinadoras passaram a adotar postura de cautela, preferindo aguardar definições judiciais antes de confirmar participações. A incerteza atinge o planejamento de shows e o lançamento de novos projetos. O álbum mais recente, “Liberdade”, lançado em meio às controvérsias, reúne participações de nomes emergentes do trap e continua em evidência nas plataformas de streaming, mas a divulgação enfrenta entraves decorrentes da exposição negativa.

No campo legislativo, o caso reforçou discussões sobre a chamada “PL anti-Oruam”, proposta que pretende restringir apresentações públicas de artistas que respondem a processos por ligação com facções criminosas ou que contenham, em seu repertório, letras enquadradas como apologia ao crime. Parlamentares favoráveis afirmam que a medida visa impedir o financiamento de atividades ilícitas por meio do entretenimento. Por outro lado, entidades do setor musical e juristas argumentam que o projeto pode representar censura prévia e ameaçar a liberdade de expressão garantida pela Constituição.

A controvérsia evidencia tensão histórica entre produção cultural periférica e segurança pública. O trap-funk consolidou-se como forma de expressão de comunidades urbanas, abordando temas como violência, desigualdade e aspirações de ascensão social. Críticos temem que a criminalização de artistas acabe por estigmatizar todo um gênero musical e ampliar a distância entre poder público e juventude de favelas. Especialistas em direito cultural defendem uma distinção clara entre ficção artística e conduta criminosa, ressaltando que denúncias devem ser analisadas caso a caso, sem generalizações.

Para o mercado fonográfico, os desdobramentos do processo contra Oruam servem de alerta. Executivos acompanham o impacto financeiro de eventuais cancelamentos e a reação do público, que demonstra apoio ao artista nas redes, mas também questiona sua postura fora dos palcos. Nos bastidores, produtores avaliam estratégias de gestão de imagem em meio à polarização social que circunda o debate sobre crime, arte e responsabilidade.

Enquanto isso, a investigação segue em curso na DRE. O inquérito deve ouvir testemunhas do confronto no bairro do Joá e analisar imagens de câmeras de segurança. Caso seja denunciado pelo Ministério Público, Oruam poderá responder em liberdade ou ter prisão preventiva decretada, a depender da avaliação de risco processual. A defesa do músico afirma colaborar com as autoridades e nega participação em facções.

O desfecho judicial, ainda sem prazo definido, terá reflexos diretos tanto na trajetória do artista quanto na formulação de políticas culturais e de segurança. Até lá, o nome de Oruam permanece no centro de uma discussão que extrapola o universo musical e dialoga com questões estruturais do país em 2025.

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