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Xiaomi acelera no mercado automotivo com venda relâmpago de SUV elétrico e estratégia verticalizada

A Xiaomi consolidou sua entrada no setor de veículos elétricos ao comercializar mais de 200 mil unidades do SUV YU7 em apenas três minutos após o lançamento, no mês passado. O desempenho reforça a ambição da empresa de transformar sua divisão automotiva em um novo pilar de negócios e posiciona o grupo entre os principais desafiantes de montadoras tradicionais e de outras gigantes de tecnologia.

Fundada em 2010 e liderada pelo CEO Lei Jun, a companhia ganhou relevância global primeiro no mercado de smartphones, superando marcas como Huawei em alguns períodos de vendas. Depois de estabelecer presença em dispositivos móveis e eletrônicos conectados, a fabricante partiu para o setor automotivo, ampliando sua atuação para além do segmento de informática de consumo.

A estreia em carros ocorreu em março de 2024, com o sedã esportivo SU7. Desde então, mais de 300 mil veículos da marca já circulam na China, de acordo com números internos citados pelo mercado. A fila de encomendas exige mais de um ano para ser atendida, sinalizando procura contínua mesmo em um ambiente de forte concorrência e redução de preços entre montadoras locais.

O contexto de guerra de preços não impediu a direção da Xiaomi de projetar lucro na divisão automotiva ainda em 2025. A perspectiva de rentabilidade contribuiu para a valorização expressiva das ações: desde o início de 2024, o valor de mercado da companhia quadruplicou e se aproxima de US$ 190 bilhões, patamar que a coloca entre as maiores empresas de tecnologia da Ásia.

O avanço contrasta com o desempenho de outros grupos de tecnologia que tentaram ingressar no mesmo setor. A Apple, por exemplo, investiu bilhões de dólares ao longo de uma década e acabou cancelando seus planos de desenvolver um carro próprio. A Xiaomi, por sua vez, aproveitou a estrutura produtiva já madura na China, recrutou profissionais de montadoras rivais e ergueu uma fábrica própria em Pequim, rompendo com o modelo terceirizado utilizado nos smartphones.

A verticalização inaugurada para os automóveis passou a se estender também às demais linhas de produtos. A companhia desenvolve internamente tanto o design quanto a produção de celulares e dispositivos de internet das coisas, buscando ganhos de escala, integração de software e maior controle sobre custos.

A base de usuários oferece uma vantagem adicional. No fim de 2023, a Xiaomi registrava cerca de 700 milhões de usuários ativos mensais em seus dispositivos. Além de adquirir hardware, parte desse público utiliza a loja de aplicativos da empresa, onde consome jogos e publicidade. A expectativa interna é de que mesmo uma fração pequena desse contingente migrando para a compra de automóveis já garantirá volumes significativos de produção e receita para a nova unidade de negócios.

O engajamento é reforçado pela figura de Lei Jun, que ganhou o apelido de “Steve Jobs chinês” pela postura pública e pelo histórico na criação da marca. A comunidade de fãs, conhecida como Mi Fans, manteve-se ativa mesmo após um acidente fatal envolvendo um SU7, em março de 2025. O episódio colocou o sistema de direção autônoma da montadora sob escrutínio e provocou queda temporária das ações, mas não reduziu a procura pelo YU7 nas semanas seguintes.

Hoje, quase metade da receita de smartphones e dispositivos conectados da Xiaomi vem de fora da China, especialmente de mercados emergentes como Índia e Indonésia. A companhia pretende iniciar as vendas de veículos no exterior até 2027. Para preparar a expansão, o grupo investe na construção de uma rede física de aproximadamente 10 mil lojas internacionais, avanço expressivo ante as poucas centenas existentes até 2023.

Apesar do ritmo acelerado, os desafios permanecem significativos. No setor automotivo, a BYD vende em torno de 200 mil carros por mês, volume dez vezes superior ao alcançado pela Xiaomi. Já no mercado de smartphones, a Huawei retoma participação após as sanções impostas pelos Estados Unidos em 2019, intensificando a competição em um de seus principais segmentos de atuação.

A trajetória recente indica que a combinação de inovação em produtos, controle vertical da cadeia e fidelização de consumidores pode sustentar a presença da Xiaomi entre as grandes empresas da economia digital chinesa. A capacidade de manter margens em um mercado de veículos elétricos pressionado por descontos e de replicar sua base de usuários para além dos celulares serão pontos centrais para os próximos capítulos da companhia.

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