Trump interfere em outros países ao tentar influenciar julgamentos de aliados ideológicos, mas, até agora, nenhum tribunal cedeu às suas pressões.
No último ano, o presidente dos Estados Unidos interveio publicamente em processos contra Jair Bolsonaro, Binyamin Netanyahu, Marine Le Pen e Álvaro Uribe, repetindo o argumento de que todos seriam vítimas de “caça às bruxas”, tal como ele próprio afirma ter sofrido.
Trump interfere em outros países, mas pressões fracassam
A ofensiva mais recente ocorreu em junho, quando Netanyahu deveria depor em Jerusalém por acusações de suborno, fraude e quebra de confiança. Trump exigiu que o “julgamento fosse cancelado imediatamente” e sugeriu cortar a ajuda militar a Israel, que soma bilhões de dólares anuais. No dia seguinte, porém, o tribunal israelense manteve a audiência e agendou novo depoimento para esta semana.
Em abril, o republicano saiu em defesa de Marine Le Pen, condenada por desviar recursos do Parlamento Europeu e impedida de concorrer em 2027. Para Trump, a sentença representaria “guerra jurídica de esquerdistas europeus”. Ainda assim, a líder da ultradireita continua inelegível.
Na Colômbia, o ex-presidente Álvaro Uribe recebeu pena de 12 anos de prisão domiciliar por corrupção de testemunhas. Embora Trump não tenha falado diretamente, seu secretário de Estado, Marco Rubio, atacou o Judiciário colombiano após a condenação. Uribe recorre em liberdade, mas a sentença inicial permanece válida.
Nem mesmo nas urnas a “diplomacia do espelho” tem surtido grande efeito. O conservador Karol Nawrocki venceu a eleição na Polônia após visita à Casa Branca; porém, candidatos alinhados ao trumpismo foram derrotados no Canadá, na Austrália e na Romênia. Segundo reportagem da BBC, o apoio explícito de líderes estrangeiros tende a gerar reação negativa em eleitorados que valorizam autonomia interna.

No Brasil, integrantes do Planalto avaliam que a pressão de Trump sobre o Tribunal Superior Eleitoral visa consolidar um candidato simpático ao trumpismo em 2026. Caso esse nome seja derrotado, o governo teme que Washington lance ofensiva para desacreditar o resultado, repetindo o roteiro de 2020 nos EUA e 2022 no Brasil.
Embora persistente, a estratégia ainda não conseguiu alterar sentenças nem modificar cenários políticos fora dos Estados Unidos, sinalizando limites para a influência pessoal de Trump sobre instituições estrangeiras.
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Crédito da imagem: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP