Tarifa dos EUA sobre produtos brasileiros reacende discussão sobre abertura comercial

Os novos encargos alfandegários anunciados pelos Estados Unidos contra exportações brasileiras colocaram novamente a política comercial no centro da agenda económica do país. A decisão, tomada pela administração do presidente Donald Trump, foi acompanhada de carta enviada a Brasília com pedido de arquivamento do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, o que reforçou a leitura de que a medida possui motivação política.
Exportadores calculam prejuízos e cobram resposta
Setores atingidos pelos aumentos tarifários estimam perdas financeiras e defendem a continuidade das negociações bilaterais. A lista de exceções incluída na iniciativa norte-americana divide posições dentro do Governo Lula entre a defesa de retaliação imediata e a manutenção do diálogo com Washington.
Em declarações recentes, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil «continua buscando parcerias com os EUA», sinalizando preferência por uma solução negociada. Enquanto isso, associações empresariais pleiteiam medidas de curto prazo para mitigar o impacto sobre vendas externas.
Estudos destacam ganhos gerais do comércio, mas ressaltam custos locais
Pesquisas internacionais citadas pela economista Deborah Bizarria indicam que a redução de barreiras costuma elevar a produtividade, baixar preços e ampliar o acesso a insumos. Entretanto, os benefícios agregados coexistem com perdas concentradas em determinados segmentos.
Levantamento de David Autor, David Dorn e Gordon Hanson revela que, entre 1990 e 2007, regiões industriais dos Estados Unidos mais expostas à concorrência chinesa registaram queda persistente no emprego e estagnação salarial. Na Índia, análise de Petia Topalova sobre a liberalização dos anos 1990 apontou aumento da pobreza em distritos altamente abertos, efeito amenizado onde existiam programas de apoio social.

Especialistas pedem plano coordenado para liberalização
Diante do novo cenário, Bizarria defende debate estruturado sobre inserção internacional ampla, combinado com políticas de compensação para grupos vulneráveis. Segundo a economista, sem mecanismos que distribuam os ganhos e atenuem os custos, cresce a resistência interna a qualquer abertura comercial.
Actualmente, o Brasil mantém tarifas elevadas em setores de baixa competitividade, fator que, de acordo com analistas, encarece a produção e limita o acesso a cadeias globais de valor. A ofensiva tarifária dos EUA, portanto, é vista como oportunidade para revisar estratégias, definir prazos de liberalização e criar instrumentos de apoio a empresas e trabalhadores afetados.