Brasília – A investigação que apura a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma trama para tentar um golpe de Estado chega ao ápice nesta terça-feira (2), quando a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal inicia o julgamento do processo. O rito põe fim a 572 dias de escalada de medidas judiciais, manifestações políticas e episódios de tensão envolvendo o ex-presidente e seus aliados.
Operação Tempus Veritatis
A cronologia começou em 8 de fevereiro de 2024, com a Operação Tempus Veritatis. Naquele dia, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra Bolsonaro e ex-integrantes do governo, restringiu sua saída do país e proibiu contato com aliados. A investigação se baseou em provas colhidas no inquérito das milícias digitais e na delação do tenente-coronel Mauro Cid.
Asilo, atos de rua e pressão por anistia
Quatro dias após a operação, Bolsonaro passou duas noites na embaixada da Hungria em Brasília, movimento interpretado como ensaio de pedido de refúgio — hipótese negada pela defesa. Em 25 de fevereiro, sob cerco das investigações, o ex-presidente reuniu milhares de apoiadores na avenida Paulista, em São Paulo, cobrando anistia para envolvidos nos ataques de 8 de Janeiro.
A discussão sobre anistia ganhou força no Congresso, mas foi postergada em 28 de outubro, quando o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), instituiu nova comissão especial, reiniciando a análise do tema.
Depoimentos e novos indiciamentos
Em 15 de março de 2024, o ex-comandante da Aeronáutica brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior declarou à PF que o golpe poderia ter sido consumado se houvesse adesão do Exército, afirmando que o general Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro caso avançasse o plano.
Em 21 de novembro, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente e outras 36 pessoas por articular diferentes frentes golpistas. Dias depois, Bolsonaro admitiu publicamente considerar “ir para uma embaixada” a fim de evitar eventual prisão.
Prisão de aliados e denúncia da PGR
A ofensiva avançou com a prisão preventiva do general da reserva Walter Braga Netto, em 14 de dezembro de 2024, por suspeita de obstrução da Justiça. Em 18 de fevereiro de 2025, a Procuradoria-Geral da República denunciou Bolsonaro e mais 33 investigados por tentativa de abolir violentamente o Estado Democrático de Direito, entre outros crimes.
Réu e sob cautelares
Em 26 de março, o STF recebeu a denúncia e tornou o ex-presidente réu. Nos meses seguintes, Bolsonaro passou a usar tornozeleira eletrônica, foi proibido de acessar redes sociais e, em 4 de agosto, teve prisão domiciliar decretada pelo ministro Alexandre de Moraes por infringir essas restrições durante manifestações que pediam seu impeachment e a anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro.
Acusações de obstrução e monitoramento
Nova frente foi aberta em 20 de agosto, quando a PF indiciou Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por tentar obstruir o julgamento. Mensagens revelaram preparação de pedido de asilo para a Argentina. Seis dias depois, Moraes determinou vigilância policial 24 horas na residência do ex-presidente para impedir fuga às vésperas do julgamento.
Julgamento
O STF reservou sessões até 12 de setembro para analisar as acusações de tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, dano qualificado ao patrimônio da União e deterioração de bem tombado. A pena combinada pode ultrapassar 40 anos de prisão e estender a inelegibilidade de Bolsonaro, atualmente válida até 2030.
À medida que o processo avança, aliados reforçam a pressão por anistia no Legislativo, enquanto críticos veem no julgamento um marco para a responsabilização de atos antidemocráticos. O desfecho do caso promete impacto direto no cenário político nacional.
Para acompanhar outros desdobramentos sobre poder e Justiça, visite a sessão de política do nosso site.
Quer ficar por dentro de todos os passos do julgamento? Siga nossas atualizações em tempo real e receba alertas exclusivos.
Com informações de Folha de S.Paulo
