noticias

De caos inaugural a potência global: como a Disneylândia lançou o império Disney de US$ 219 bilhões

Em julho de 1955, a abertura da Disneylândia, em Anaheim, Califórnia, marcou o início de uma jornada que transformou a Walt Disney Company na gigante de entretenimento avaliada hoje em US$ 219 bilhões. A estreia, porém, passou longe de ser um conto de fadas: 28 mil pessoas lotaram o parque, quase o dobro do esperado, gerando falhas de infraestrutura que entraram para a história como “Black Sunday”.

Naquele 17 de julho, o asfalto recém-assentado de Main Street amoleceu sob o calor intenso, prendendo os saltos de visitantes; fontes de água permaneceram fechadas devido a uma greve de encanadores; e um vazamento de gás obrigou o fechamento temporário de parte de Fantasyland. A superlotação também afetou as atrações: o barco Mark Twain navegou com 500 passageiros, bem acima da capacidade oficial de 300, e brinquedos como Dumbo e Peter Pan não chegaram a operar. Com apenas três restaurantes disponíveis, a comida esgotou rapidamente, enquanto um congestionamento de sete milhas na Santa Ana Freeway paralisou o entorno.

Surpreendido pelo caos, Walt Disney convidou o público a retornar no dia seguinte sem custo, numa tentativa de reparar a imagem do parque. A resposta foi imediata: em sete semanas, a Disneylândia superou a marca de 1 milhão de visitantes. A recuperação veio acompanhada de mudanças operacionais, incluindo ingressos numerados, reforço de segurança, ampliação de áreas de alimentação e ajustes de saneamento. O rápido aprendizado manteve o projeto de pé e pavimentou a expansão global que se seguiria.

Em 1971, a empresa inaugurou o Walt Disney World Resort, na Flórida, e, ao longo das décadas seguintes, abriu unidades na Europa e na Ásia. Atualmente, o grupo opera 12 parques temáticos que recebem mais de 140 milhões de visitantes por ano. No primeiro trimestre de 2025, a divisão de parques e experiências registrou receita de US$ 9,4 bilhões e lucro de US$ 3,1 bilhões, respondendo por 36% da receita consolidada e 70% do lucro operacional da companhia.

O crescimento dos parques só foi possível porque o estúdio já havia consolidado sua relevância no cinema. “Branca de Neve e os Sete Anões”, lançado em 1937, inaugurou a Era de Ouro da animação e abriu caminho para clássicos como “Pinóquio”, “Fantasia”, “Dumbo” e “Bambi”. Nos anos 1950 e 1960, títulos como “Cinderela”, “Alice no País das Maravilhas” e “A Bela Adormecida” reforçaram a popularidade das histórias que ganhariam vida nos parques.

A partir da década de 1980, a chamada Renascença Disney trouxe sucessos como “A Pequena Sereia”, “A Bela e a Fera”, “Aladdin” e “O Rei Leão”. Em movimento paralelo, a companhia iniciou uma série de aquisições estratégicas: a rede ABC em 1996 (US$ 19 bilhões), a Pixar em 2006 (US$ 7 bilhões), a Marvel em 2009 (US$ 4 bilhões), a Lucasfilm em 2012 (US$ 4 bilhões) e a 21st Century Fox em 2017 (US$ 71 bilhões). Essas compras ampliaram o catálogo e alimentaram franquias responsáveis por algumas das maiores bilheterias da história, como “Vingadores: Ultimato”, com US$ 2,8 bilhões, e “Star Wars: O Despertar da Força”, com US$ 2,07 bilhões.

O passo seguinte foi o streaming. Concebido por Bob Iger, o Disney+ foi lançado em novembro de 2019 nos Estados Unidos, Canadá e Países Baixos, chegando ao Brasil em 2020. A plataforma, combinada em pacotes com Hulu e ESPN+, acumulou 126 milhões de assinantes no segundo trimestre de 2025 e projeta alcançar 194 milhões até o fim do ano. No último trimestre, o segmento de streaming somou lucro operacional de US$ 336 milhões; a meta para 2025 é atingir US$ 875 milhões.

Fora da terra firme, a Disney Cruise Line, criada em 1998 com o navio Disney Magic, ampliou a oferta de entretenimento familiar no mar. A divisão encerrou 2023 com receita de US$ 2,2 bilhões e taxa de ocupação de 97%. O plano prevê expandir a frota de seis para 13 embarcações até 2031, elevando a capacidade de 13,5 mil para 28 mil leitos e projetando faturamento de US$ 9 bilhões até 2032.

Produtos licenciados compõem outro pilar do conglomerado. De pelúcias a artigos de moda, as vendas globais somam US$ 62 bilhões por ano. A estratégia de licenciamento envolve parceiros regionais, como Mercado Livre e Dream Store no Brasil, fortalecendo a presença da marca no cotidiano dos consumidores.

O desempenho robusto sustenta o otimismo de Wall Street. Analistas estimam o preço das ações entre US$ 128 e US$ 147 e projetam crescimento de 16% no lucro por ação para o exercício fiscal de 2025. Entre os fatores de risco, especialistas citam a concorrência de parques rivais, a desaceleração econômica na Ásia e a disputa acirrada no streaming, que exige investimentos contínuos em conteúdo exclusivo.

Sete décadas depois do problemático “Black Sunday”, a Disneylândia permanece como símbolo do modelo de negócios que uniu cinema, parques, produtos, cruzeiros e streaming. O conglomerado criado a partir do imaginário de Walt Disney consolidou-se como uma potência diversificada, cuja capacidade de adaptação segue impulsionando novos capítulos de crescimento em escala global.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo