Tecnologia

Produção poluente trava adoção do hidrogênio como combustível limpo

Apontado há décadas como alternativa aos combustíveis fósseis, o hidrogênio ainda não chegou aos postos de abastecimento por um motivo central: a própria produção continua a liberar grandes volumes de dióxido de carbono.

Emissões comprometem benefício ambiental

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), são emitidas entre 9 t e 12 t de CO₂ para cada tonelada de hidrogênio puro gerada nos processos dominantes. Hoje, a maior parte da oferta global corresponde ao chamado hidrogênio cinza, obtido pela reforma do gás natural em alta temperatura. Essa rota libera cerca de 12 kg de CO₂ por quilo de hidrogênio, anulando o ganho ambiental oferecido durante a queima, que gera apenas vapor d’água.

O hidrogênio azul, variante que adiciona captura parcial de carbono ao mesmo processo, reduz as emissões, mas ainda deixa escapar de 3 kg a 5 kg de CO₂ por quilo produzido. Para fins de comparação, a gasolina emite aproximadamente 2,3 kg de CO₂ por litro queimado, evidenciando que o ciclo completo do combustível alternativo continua distante da neutralidade de carbono.

Hidrogênio verde enfrenta barreiras de custo e escala

A rota considerada ideal, batizada de hidrogênio verde, utiliza eletrólise da água alimentada por fontes renováveis, limitando as emissões a até 1 kg de CO₂ por quilo de hidrogênio. No entanto, esse método depende de eletrolisadores ainda caros e de energia solar ou eólica, nem sempre disponíveis de forma contínua. A intermitência dificulta a operação industrial ininterrupta e eleva os custos de produção.

Pesquisadores em universidades como Cardiff, no Reino Unido, e o MIT, nos Estados Unidos, investigam catalisadores e sistemas mais eficientes para reduzir despesas e viabilizar a fabricação em larga escala. Caso esses desafios sejam superados, o hidrogênio verde poderá atender não apenas veículos, mas também indústrias de aço, fertilizantes e aviação, setores com altas emissões e poucas alternativas de descarbonização.

Próximos passos

Enquanto não surgem processos competitivos, o hidrogênio permanece restrito a nichos industriais que já o utilizam como matéria-prima. A evolução tecnológica na produção — mais do que a adoção em motores ou células a combustível — será decisiva para transformar o “combustível do futuro” em opção viável na transição energética global.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo