Prisão de Carla Zambelli acelera processos de cassação na Câmara

Brasília — A detenção da deputada Carla Zambelli (PL-SP) em Roma, na terça-feira (29), desencadeou nova pressão para que a Câmara dos Deputados conclua julgamentos de parlamentares ameaçados de perder o mandato.
Prisão no exterior altera cronograma interno
Zambelli foi condenada em 14 de maio pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal a dez anos de prisão e à cassação do mandato por invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça e falsidade ideológica. Após licenciar-se no fim de maio, ela viajou para a Itália, onde foi localizada pela Polícia Federal em cooperação com autoridades italianas.
No início, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), indicou que homologaria de imediato a decisão do STF. Pressionado pelo PL, contudo, remeteu o processo à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O relator, Diego Garcia (Republicanos-PR), deve anunciar na próxima semana o plano de trabalho, que pode incluir depoimentos por videoconferência de Zambelli, do hacker Walter Delgatti e de outras testemunhas. Após a fase de instrução, Garcia terá cinco sessões para apresentar parecer. Se aprovado, o tema segue ao plenário, onde são necessários 257 votos para a cassação.
Lista de ameaçados inclui nomes de direita e esquerda
O caso de Zambelli não é isolado. O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) já teve recomendação de perda de mandato aprovada pelo Conselho de Ética em abril, por agressão a um militante do MBL. Seu recurso foi rejeitado pela CCJ, e o processo aguarda apenas a definição de data para votação em plenário.
André Janones (Avante-MG) cumpre suspensão de 90 dias desde 15 de junho, após discussão com oposicionistas durante discurso de Nikolas Ferreira (PL-MG). O PL pretende apresentar novo pedido de cassação, alegando confissão no caso das “rachadinhas” depois de acordo do deputado com a Procuradoria-Geral da República. Janones nega irregularidades.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também é alvo de representações por quebra de decoro. O PT questiona suas declarações no exterior e eventual estímulo a medidas econômicas contra o Brasil. Além disso, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro poderá responder por faltas se não comparecer a um terço das sessões de 2025, avaliação que só ocorrerá em 2026.
Cenário político influencia decisões
Nos bastidores, deputados avaliam que a Câmara buscará equilíbrio entre campos ideológicos. Integrantes de partidos de centro afirmam que o destino de Zambelli poderá ser espelhado no de Glauber Braga, visto como contraponto à parlamentar bolsonarista.
Enquanto isso, Gilvan da Federal (PL-ES) cumpre suspensão de três meses por ofensas à ministra Gleisi Hoffmann, sem movimentos atuais para cassação. A sequência de processos indica que, com a prisão de Zambelli, a Câmara terá de decidir nos próximos meses o futuro de pelo menos quatro deputados sob risco de perder o mandato.