Prisão de 1986 impulsiona Bolsonaro e mobiliza militares

Em setembro de 1986, o então capitão Jair Bolsonaro foi condenado a 15 dias de detenção disciplinar depois de assinar um artigo na revista Veja com a manchete “O salário está baixo”. A punição, aplicada na Vila Militar do Rio de Janeiro, acabou por dar visibilidade ao oficial e desencadear uma onda de apoio entre praças e oficiais subalternos.
Artigo rompe hierarquia e resulta em detenção
No texto, Bolsonaro criticava a remuneração dos militares e citava a evasão de cadetes da Academia das Agulhas Negras. A última frase trazia o lema “Brasil acima de tudo”, associado ao grupo anticomunista Centelha Nativista. Considerado afronta à disciplina e à hierarquia, o conteúdo levou o comando da Brigada Paraquedista a determinar a prisão do capitão.
Solidariedade dentro e fora dos quartéis
A detenção gerou manifestações de esposas de oficiais, abaixo-assinados e telegramas enviados de diferentes regiões do país. Relatórios do Centro de Informações do Exército (CIE) registraram preocupação com a mobilização, que incluiu a tentativa de divulgação de um manifesto assinado por cerca de 300 capitães. Generais como Newton Cruz e coronéis como Sebastião Curió enviaram mensagens de apoio.
Efeito político e caminho para o Congresso
O episódio inspirou outros oficiais a repetir as reivindicações salariais. Meses depois, o capitão Sadon Pereira Filho e, em 1987, Luiz Fernando Walther de Almeida também foram presos por protestos semelhantes. A notoriedade obtida por Bolsonaro culminou em 1988, quando o Superior Tribunal Militar o absolveu num processo ligado a suposto plano de explosões para pressionar o governo por reajuste. Em seguida, Bolsonaro disputou e venceu a eleição para vereador do Rio de Janeiro pelo PDC, entrando na reserva remunerada aos 33 anos.

A ascensão política do ex-capitão foi construída sobre a base de apoio formada nos estratos inferiores das Forças Armadas durante o período de contestação salarial. O conflito de 1986, iniciado com um artigo de revista, transformou-se no ponto de partida de sua trajetória parlamentar e, posteriormente, presidencial.