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Planalto organiza ofensiva para conter avanço de Tarcísio e neutralizar narrativa de vítima a Bolsonaro

Integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desenham duas linhas de atuação desde 18 de julho, data em que Jair Bolsonaro (PL) recebeu tornozeleira eletrônica por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF. A primeira linha busca impedir que o ex-presidente se apresente como perseguido político; a segunda procura evitar que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), capitalize o desgaste do seu aliado e consolide a herança do capital eleitoral bolsonarista.

Assessores do Planalto consideram que a operação da Polícia Federal, realizada na casa de Bolsonaro e que resultou na apreensão de US$ 14 mil em espécie, abalou a viabilidade eleitoral do ex-mandatário. Além da tornozeleira, Bolsonaro está proibido de acessar redes sociais e deve permanecer em casa entre 19h e 7h. Para interlocutores de Lula, essas restrições reduzem o alcance de mobilização do ex-presidente e abrem espaço para que o governo avance em agendas próprias, desde que evite alimentar qualquer narrativa de perseguição.

No âmbito da contenção a Tarcísio, a estratégia consiste em associar o governador a temas que causem desgaste junto ao eleitorado de centro — considerado decisivo na disputa presidencial de 2026. A fala da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, logo após a operação da PF, foi citada como modelo. Ela vinculou Tarcísio ao aumento tarifário anunciado pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump contra produtos brasileiros, medida impopular internamente por seus impactos econômicos. A orientação é repetir esse vínculo sempre que possível, reforçando a imagem de alinhamento do governador a decisões vistas como adversas aos interesses nacionais.

Aliados de Lula avaliam que o endurecimento do governo dos Estados Unidos contra ministros do Supremo, que resultou em restrições de entrada daquele grupo no país, também dificulta a narrativa de vítima bolsonarista. O raciocínio é que, ao receber apoio explícito de uma potência estrangeira, Bolsonaro perde parte do argumento de que sofre perseguição do Judiciário brasileiro.

Apesar de reconhecerem que a operação da PF retirou das manchetes temas considerados favoráveis a Lula — como justiça tributária e soberania econômica —, integrantes do governo ponderam que investigações sobre o ex-presidente eram previsíveis e poderiam ocorrer a qualquer momento. Para eles, restou ao Planalto ajustar o discurso, transformando o episódio em oportunidade para reforçar a agenda de defesa de interesses nacionais diante de pressões externas, como a sobretaxa de 50% anunciada por Trump.

A cautela com declarações públicas foi reforçada pelo próprio presidente. Em evento oficial poucas horas depois de a Polícia Federal instalar a tornozeleira, Lula evitou mencionar o caso, sinalizando a ministros que não deseja que o Executivo seja visto como ator que incentiva ações judiciais contra adversários. A recomendação interna foi que nenhum titular de pasta explorasse o episódio, deixando eventuais posicionamentos a cargo de figuras partidárias.

Nesse vácuo, o PT foi incumbido de manter em evidência temas considerados positivos ao governo. A direção da sigla orientou filiados a priorizar debates sobre a reforma tributária e a proteção da indústria nacional, afastando-se de controvérsias envolvendo Bolsonaro. “Bolsonaro é assunto do Ministério Público e do Judiciário”, tem repetido o futuro presidente do partido, Edinho Silva, reforçando a separação entre governo e investigação.

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Imagem: redir.folha.com.br

Paralelamente, o Planalto acompanha as movimentações do núcleo bolsonarista e do ex-presidente norte-americano. Declarações de Donald Trump e de Eduardo Bolsonaro são vistas como oportunidades para retomar a discussão sobre soberania econômica, área em que o governo pretende dialogar com empresários que, embora simpáticos a Tarcísio, dependem do mercado norte-americano e podem ser afetados pelas barreiras tarifárias. Ao buscar soluções para esse setor, Lula vislumbra aproximar-se de segmentos do PIB tradicionalmente resistentes ao PT.

Para assessores presidenciais, qualquer tentativa de Tarcísio de se distanciar de Bolsonaro encontrará reação imediata. A instrução é ressaltar que o governador foi ministro da Infraestrutura no governo anterior e que sua ascensão política ocorreu sob forte apoio do ex-chefe do Executivo. Dessa forma, pretende-se limitar a capacidade de Tarcísio de construir imagem própria perante eleitores fora do núcleo ideológico bolsonarista.

No campo institucional, auxiliares de Lula recordam que o ritmo da Justiça não se alinha ao calendário político e, portanto, novas etapas das investigações podem ocorrer até as eleições municipais de 2024 e a campanha presidencial de 2026. Enquanto isso, a prioridade interna é manter a administração federal focada em resultados econômicos e na implementação de políticas públicas que reforcem o discurso de governabilidade, minando argumentos da oposição de que o governo se sustenta apenas na judicialização de adversários.

Com a decisão de se manter distante de ataques diretos a Bolsonaro, o Palácio do Planalto transfere ao PT e a ministros do campo político a tarefa de rebater eventuais manifestações do ex-presidente e de seu círculo. Já a área econômica segue orientada a demonstrar eventuais prejuízos de medidas de retaliação externa, para reforçar a narrativa de que o bolsonarismo compromete interesses nacionais. O núcleo político de Lula espera que, dessa forma, o desgaste de Bolsonaro se consolide sem que Tarcísio apareça como alternativa moderada, preservando para o presidente espaço entre eleitores de centro que decidirão o próximo pleito.

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