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Equipe da Universidade Católica de Brasília viaja à Lapônia para coletar briófitas com potencial farmacêutico e agrícola

Quatro pesquisadores da Universidade Católica de Brasília (UCB) embarcam no próximo sábado (26/7) rumo à região da Lapônia, no norte da Finlândia e da Suécia, para coletar briófitas que suportam condições extremas e produzem substâncias de interesse biotecnológico. O grupo é composto pelos professores Marcelo Ramada, pós-doutor em ciências biológicas, e Stephan Machado Dohms, doutor em ciências genômicas e biotecnologia, além das estudantes Thaissa Mendes, 22 anos, do curso de farmácia, e Maria Karollina Gonçalves, 30, do curso de odontologia.

A expedição integra o projeto Briotech, vinculado aos programas de pós-graduação em ciências genômicas e biotecnologia e em gerontologia da UCB. O objetivo principal é reunir amostras de musgos, hepáticas e antóceros nativos do Círculo Polar Ártico, cultivá-las em laboratório e, posteriormente, extrair moléculas que possam resultar em novos antibióticos, compostos antitumorais, melhoramento genético de lavouras e outros produtos de valor comercial.

Briófitas são pequenas plantas sem estrutura lenhosa, subdivididas em três grupos: musgos, hepáticas e antóceros. Segundo o Instituto de Pesquisas Ambientais de São Paulo, o nome deriva dos termos gregos “bryon” (musgo) e “phyton” (planta). Espécies encontradas nos polos suportam baixíssimas temperaturas, alta radiação solar no verão e períodos de seca prolongada. Para sobreviver, desenvolvem substâncias químicas que funcionam como defesa contra microrganismos e estresse ambiental, característica que desperta interesse da indústria farmacêutica e agrícola.

Um exemplo é Sanionia uncinata, musgo típico do Ártico já investigado por pesquisadores em busca de aplicações em saúde, agricultura, indústria e meio ambiente. Estudos apontam a possibilidade de empregar os compostos dessa espécie na produção de alimentos transgênicos, vacinas, biocombustíveis e tratamentos contra patógenos resistentes a antibióticos. A coleta de novos exemplares pretende ampliar o banco de dados genéticos disponível e identificar moléculas ainda não descritas.

Os professores Ramada e Dohms acumulam sete viagens científicas a regiões polares e integraram, em 2023, a primeira expedição brasileira oficial ao Ártico. Nesta nova etapa, o planejamento prevê comparar amostras coletadas no norte com material prévio da Antártica. A intenção é entender como as briófitas de ambientes extremos se diferenciam geneticamente e de que forma essas variações podem ser transferidas, por meio de engenharia genética, a culturas de relevância econômica, como soja, milho, feijão e arroz.

Durante a permanência na Lapônia, a equipe mapeará áreas de tundra, selecionará espécies-alvo e realizará coleta seguindo protocolos de biossegurança. As plantas serão acondicionadas em recipientes isotérmicos e enviadas ao laboratório da UCB, onde passarão por cultivo in vitro. A partir desse material, os cientistas pretendem isolar metabólitos secundários, avaliar atividade antibacteriana e antitumoral e testar aplicações em melhoramento genético vegetal.

Além da meta científica, a missão inclui compromisso diplomático. Os quatro integrantes agendaram visita à Embaixada do Brasil em Helsinque, capital finlandesa, para reunião com o embaixador Luís Balduíno. O encontro deve abordar oportunidades de cooperação entre instituições de pesquisa brasileiras e centros nórdicos especializados em biotecnologia e ciências ambientais.

A expedição conta com apoio logístico da UCB e de colaboradores internacionais. Segundo a universidade, os resultados esperados abrangem publicações em periódicos especializados, depósito de patentes referentes a novas moléculas bioativas e formação de recursos humanos em ciência polar. Com a viagem, a instituição busca fortalecer a presença do Brasil em pesquisas no Ártico e contribuir para o desenvolvimento de soluções terapêuticas e agrícolas voltadas a desafios globais, como resistência bacteriana e necessidade de aumento sustentável da produção de alimentos.

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