Mudanças climáticas impulsionam alta histórica nos preços de alimentos, aponta estudo europeu

A elevação dos preços de itens básicos como alface, azeite de oliva e legumes está cada vez mais associada à intensificação de eventos climáticos extremos ao redor do planeta. Um estudo conduzido pelo Barcelona Supercomputing Center em parceria com o Banco Central Europeu analisou 16 ocorrências de seca severa, calor recorde e inundações registradas entre 2022 e 2024, concluindo que o aquecimento global exerce impacto maior do que se estimava sobre os custos da produção agrícola.
Os pesquisadores identificaram uma correlação direta entre esses eventos e aumentos agudos nos valores pagos pelo consumidor. Entre os casos mapeados, a inundação que atingiu a Austrália em 2022 ilustra a dimensão do problema: a oferta de alface foi drasticamente reduzida, levando o preço da unidade a atingir US$ 7,81, o que representa cerca de R$ 43, uma alta próxima de 300% em relação à média histórica.
Na Europa, a pesquisa mostrou que a produção de azeite de oliva foi uma das mais afetadas pelas variações climáticas. Secas prolongadas em regiões tradicionalmente produtoras contribuíram para uma elevação de 50% no preço do litro, pressionando tanto agricultores quanto consumidores finais. Nos Estados Unidos, a estiagem na Califórnia, somada à escassez hídrica no Arizona, resultou em aumentos de até 80% nos valores de diversos vegetais frescos.
Segundo o levantamento, esses reajustes não constituem episódios isolados. A frequência e a intensidade das anomalias climáticas criam um novo padrão de volatilidade que tende a se manter. A combinação de um ciclo recente do fenômeno El Niño, caracterizado por temperaturas mais altas no Pacífico, com o avanço do aquecimento global já ampliou riscos para colheitas em múltiplas regiões agrícolas.
Embora alguns segmentos consigam se recuperar parcialmente após o choque inicial, outros apresentam maior sensibilidade. Produtos como café e carne exigem condições climáticas específicas e ciclos de produção mais longos, o que torna os reajustes provocados por seca ou calor excessivo mais persistentes. A análise ressalta que o impacto se propaga por toda a cadeia, refletindo em custos de ração, transporte e armazenamento.
O estudo também dimensionou o efeito direto no orçamento familiar. No Reino Unido, estima-se que os lares gastaram em média £ 361 (aproximadamente R$ 2.709,03) a mais com alimentos entre 2022 e 2023 em razão do agravamento das condições meteorológicas. Esse acréscimo, apontam os autores, reforça o caráter global do problema, pois combina perdas de safra em diferentes continentes com pressões cambiais e logísticas.
Além das consequências para o consumidor, a volatilidade de preços traz desafios para governos e setor privado. A pesquisa destaca a necessidade de políticas públicas de apoio à renda e de mecanismos de seguro que protejam pequenos produtores contra quebras inesperadas. Ferramentas de previsão climática mais precisas podem ajudar na adaptação, mas não eliminam o risco sistêmico associado ao aumento da temperatura média mundial.
Os responsáveis pelo levantamento salientam que a mitigação das emissões de gases de efeito estufa permanece a forma mais eficaz de conter a inflação alimentar no longo prazo. A implementação de práticas agrícolas resilientes, uso mais racional de recursos hídricos e investimentos em culturas tolerantes ao clima são considerados complementares, mas não suficientes se o ritmo atual de aquecimento prosseguir.
O relatório conclui que, enquanto a variabilidade climática continuar a se intensificar, o custo dos alimentos deve manter tendência de alta e variação acima dos padrões históricos. Essa perspectiva coloca pressão adicional sobre cadeias de abastecimento já afetadas por fatores econômicos como choques de oferta, custos energéticos e flutuações cambiais.
Diante desse cenário, especialistas reforçam que a coordenação internacional entre países produtores e consumidores será crucial para reduzir vulnerabilidades. Estratégias de diversificação de origem, estoques reguladores e infraestrutura adaptada a eventos extremos podem atenuar oscilações, mas dependem de planejamento integrado e de compromissos robustos com metas de descarbonização.