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Tarifas de 50% impostas por Trump ampliam apoio a Lula e provocam cisma entre empresários pró-Bolsonaro, indica Washington Post

Uma análise publicada pelo The Washington Post aponta que a decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de fixar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros acabou fortalecendo politicamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e gerando tensões entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. O jornal descreve a medida como um “presente de Natal antecipado” para Lula, avaliando que a iniciativa teve efeito inverso ao pretendido por Trump.

O colunista Ishaan Tharoor, citando fontes diplomáticas em Washington, relata que o pacote tarifário, anunciado em 21 de julho de 2025, buscava pressionar o Brasil depois de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra campanhas de desinformação. O alvo principal seria o ministro Alexandre de Moraes, responsável por investigações sobre redes de conteúdo fraudulento e, indiretamente, sobre aliados de Bolsonaro. Entretanto, em vez de isolar o governo brasileiro, as tarifas intensificaram a percepção interna de ameaça à soberania nacional, circunstância explorada pelo Palácio do Planalto para consolidar apoio.

Segundo o artigo, Trump combinou o aumento de tarifas com críticas públicas ao STF e manifestações de apoio a Bolsonaro. A tentativa de favorecer o ex-presidente brasileiro, que enfrenta processos no Tribunal Superior Eleitoral e investigações criminais, converteu-se em argumento para Lula reforçar o discurso de que o Brasil não aceitará interferência externa em assuntos judiciais ou eleitorais.

Autoridades norte-americanas ouvidas em caráter reservado afirmam que a estratégia surpreendeu até membros do Departamento de Estado, uma vez que os Estados Unidos mantêm superávit comercial com o Brasil. O mal-estar diplomático inclui questionamentos internos sobre a conveniência de vincular política comercial a disputas judiciais em país soberano.

Do lado brasileiro, Lula respondeu em entrevista à CNN que Trump “foi eleito para governar os EUA, não para se comportar como imperador do mundo”. O presidente ainda recordou os eventos de 6 de janeiro de 2021, sugerindo que, se atos semelhantes ocorressem no Brasil, o responsável poderia ser julgado e preso. As declarações reforçaram a imagem de Lula como defensor das instituições nacionais frente à pressão estrangeira.

Os efeitos econômicos das tarifas repercutiram especialmente entre exportadores de setores tradicionalmente alinhados à direita. Empresários do agronegócio, da indústria de transformação e do setor de serviços externos passaram a pressionar parlamentares aliados de Bolsonaro, alertando para perdas de competitividade no mercado norte-americano. O resultado, descreve o jornal, foi uma fissura na coalizão conservadora que vinha sustentando o ex-presidente desde as eleições de 2022.

Empresários, investidores e organizações setoriais que antes endossavam pautas bolsonaristas agora avaliam o custo direto das tarifas, estimado por consultorias privadas em bilhões de dólares ao ano. Para parte desse grupo, o apoio de Trump teria extrapolado os limites desejados, trazendo prejuízos imediatos sem garantia de retorno político.

Em Brasília, o governo federal tem ressaltado que a nova barreira comercial confirma a necessidade de diversificar parceiros e fortalecer cadeias produtivas internas. Integrantes do Ministério das Relações Exteriores revelam que a retaliação de Washington acelerou conversas com União Europeia, China e nações latino-americanas para ampliar acordos já em negociação.

O Washington Post acrescenta que, enquanto não há perspectiva de revogação rápida das tarifas, a popularidade de Lula registra crescimento em pesquisas internas. Analistas consultados pelo jornal atribuem o movimento a um “efeito rally”, fenômeno em que líderes ganham apoio ao se posicionar contra pressões externas consideradas injustas.

Fontes diplomáticas declararam ao colunista que o cálculo político de Bolsonaro e seus aliados teria sido obter solidariedade internacional contra ações do STF. Contudo, ao resultar em sanções que afetam toda a economia, a manobra ajudou a alienar segmentos importantes de sua base, sobretudo entre executivos do mercado financeiro e empresários exportadores.

Nesse ambiente, observadores em Washington e Brasília avaliam que o impasse tende a prolongar-se. Trump, pré-candidato à Presidência em 2026, mantém o discurso de punição ao Brasil, enquanto Lula sinaliza que qualquer negociação precisará respeitar decisões soberanas do Judiciário. Até que haja mudança de postura nos Estados Unidos ou decisão de painéis internacionais de comércio, o cenário provável é de continuidade das tarifas e de rearranjos políticos internos em torno da agenda de soberania e desenvolvimento.

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