Tecnologia

Reportagem indica que Israel usou servidores Microsoft para monitorar chamadas de palestinos

06/08/2025 — Uma investigação publicada pelo jornal britânico The Guardian descreve como a Unidade 8200, setor de inteligência das Forças de Defesa de Israel (FDI), teria armazenado milhões de ligações de cidadãos palestinos em servidores da nuvem Azure, operada pela Microsoft.

Parceria discutida em 2021

De acordo com fontes militares israelenses e funcionários da Microsoft citados na reportagem, o acordo começou a ser delineado no fim de 2021. Na ocasião, o presidente-executivo da Microsoft, Satya Nadella, reuniu-se em Tel Aviv com Yossi Sariel, então comandante da Unidade 8200. O encontro, segundo os relatos, selou a cooperação para que a divisão de inteligência utilizasse infraestrutura da Azure na guarda de dados classificados.

A apuração aponta que Nadella participou dos minutos finais da reunião. Documentos internos citados pelo Guardian indicam que o executivo apoiou o plano de migração de dados para a plataforma em nuvem, embora a empresa afirme não ter sido informada sobre o propósito de vigilância em massa.

Sistema de coleta em larga escala

O mecanismo começou a operar em 2022. Fontes associadas à Unidade 8200 relatam que todas as chamadas telefônicas originadas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia eram registradas, resultando num arquivo que ultrapassou 11.500 terabytes armazenados em servidores localizados nos Países Baixos. O objetivo declarado internamente era avaliar o conteúdo das comunicações e atribuir níveis de risco por meio de um sistema apelidado de “noisy messages”, desenhado para identificar termos relacionados a armas ou ações violentas.

Os documentos analisados indicam ainda planos de transferir cerca de 70 % dos dados sigilosos da Unidade 8200 para a Azure ao longo do tempo. Informações obtidas pela reportagem sugerem que a plataforma conseguia conservar as gravações por pelo menos um mês, prazo que poderia ser ampliado se necessário.

Posição das partes envolvidas

Procurada pelo Guardian, a Microsoft declarou não controlar o conteúdo hospedado por clientes institucionais e ressaltou que contratos do gênero visam “reforçar a cibersegurança e proteger contra ameaças de Estados-nação e grupos terroristas”. A companhia não confirmou nem negou o uso dos dados para monitoramento de civis.

As FDI, por sua vez, confirmaram a existência de acordos com empresas tecnológicas, incluindo a Microsoft, mas afirmaram que todas as atividades ocorrem sob supervisão legal e em conformidade com o direito internacional. A entidade acrescentou que as operações têm como finalidade combater o terrorismo e garantir a segurança da população israelense.

Consequências e questionamentos

Apesar do volume de informações coletadas, o sistema não teria evitado o ataque realizado pelo Hamas em 2023, que resultou em mais de mil mortes e no sequestro de 240 pessoas. Após o episódio, Yossi Sariel deixou o comando da Unidade 8200, assumindo responsabilidades pelo fracasso na prevenção.

O caso volta a colocar em debate o uso de plataformas de computação em nuvem por agências de inteligência e o grau de conhecimento que as empresas de tecnologia têm sobre a finalidade real de seus serviços.

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