Marcelo Beraba morre aos 74 anos e deixa legado no jornalismo investigativo

São Paulo — O jornalista Marcelo Beraba morreu nesta segunda-feira (28) aos 74 anos, no Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro, onde tratava um câncer no cérebro. Reconhecido por quase quatro décadas de atuação em grandes redações, Beraba foi um dos nomes centrais na modernização da cobertura política e investigativa no país.
Carreira na Folha de S.Paulo
A primeira passagem de Beraba pela Folha, nos anos 1980, coincidiu com a implementação de um projeto editorial crítico e plural. Como repórter e, depois, diretor da sucursal do Rio, ele estruturou equipes, coordenou a apuração do vazamento na Usina Nuclear de Angra dos Reis e o caso da instalação atômica na Serra do Cachimbo. Em São Paulo, assumiu as editorias de Cidades e de Política, além de comandar o suplemento Diretas-Já durante a eleição presidencial de 1989.
Entre 2004 e 2005, ocupou o cargo de ombudsman do jornal, função na qual reforçou a defesa de transparência e precisão editorial.
Atuação em outras redações e na Abraji
Além da Folha, Beraba foi editor-executivo do Jornal do Brasil, passou pelo Globo e liderou, por 11 anos, as sucursais do Rio e de Brasília de O Estado de S. Paulo. Em 2002, motivado pelo assassinato de Tim Lopes, enviou um e-mail a colegas propondo a criação de uma entidade dedicada à liberdade de expressão e à formação profissional. O gesto resultou na fundação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da qual se tornou o primeiro presidente.
Em 2005, recebeu em Washington o Prémio Excelência em Jornalismo do International Center for Journalists (ICFJ), reconhecimento pelo estímulo a reportagens aprofundadas e pela formação de novas gerações de profissionais.

Últimos anos e legado
Beraba aposentou-se em 2019, mas continuou ativo em debates sobre ética e desafios do jornalismo digital. Ele deixa a esposa, a jornalista Elvira Lobato, quatro filhos e três netos.
A trajetória de Marcelo Beraba consolidou práticas de apuração rigorosa, edição colaborativa e defesa intransigente da liberdade de imprensa, valores que seguem a orientar redações brasileiras.