Lula recupera força política após atravessar um primeiro semestre marcado por derrotas no Congresso e queda de popularidade. A partir de julho, o Palácio do Planalto saiu da defensiva, reorganizou a comunicação nas redes e conseguiu inverter o clima de “fim precoce de governo” que dominava Brasília.
O ponto mais baixo se deu em 25 de junho, quando a Câmara derrubou, por quase 400 votos, decretos sobre o IOF. A derrota seguiu-se à recuada da Fazenda num tema ligado ao Pix e a índices de aprovação que, em fevereiro, chegaram a 24%. No dia seguinte ao revés do IOF, auxiliares já falavam em reorganizar a estratégia.
Lula recupera força política e reverte crise no Congresso
A guinada começou com uma ofensiva digital que contrapôs “ricos versus pobres”, usando vídeos gerados por inteligência artificial para enquadrar oposição e centrão como defensores de privilégios. A narrativa ganhou tração, empurrou adversários para a defensiva e reduziu a resistência à taxação de grandes fortunas que compensa a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda.
Em 9 de julho, a sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump ao aço brasileiro permitiu que Lula retomasse o discurso de soberania nacional, tradicionalmente usado pelo bolsonarismo. O episódio também desgastou o governador paulista Tarcísio de Freitas, então tido como principal nome da direita para 2026, após manifestações com bandeiras norte-americanas.
A maré positiva coincidiu com a prisão domiciliar e, depois, a condenação de Jair Bolsonaro pelo STF. Com o rival fora do páreo e o embate EUA-Brasil em evidência, a aprovação do governo subiu para 33%, aproximando-se da reprovação de 38%, segundo levantamento Datafolha repercutido pelo portal G1.
No Legislativo, o Planalto retomou a iniciativa. Em julho, Lula vetou a ampliação de 513 para 531 cadeiras na Câmara, contrariando orientação de articuladores, e manteve o centrão sob pressão. Na última semana, o Congresso aprovou a medida provisória que reduz a conta de luz para famílias de baixa renda e o programa “Agora Tem Especialistas”, carro-chefe do governo na saúde. A Câmara deve votar, nos próximos dias, o projeto que eleva a isenção do Imposto de Renda, promessa central de campanha.
“Subestimaram o presidente. Com resultados econômicos melhores e oposição fragilizada, Lula virou o jogo”, avalia o líder do PT, Lindbergh Farias. Já Sóstenes Cavalcante, líder do PL, diz que o avanço se deve “à queda no preço do arroz e feijão” e acusa o Planalto de “judicialismo de coalizão”.
Entre vitórias judiciais parciais no STF, melhoras nos indicadores e divisão na direita, o governo aposta em uma agenda social robusta para sustentar a tentativa de reeleição.
O roteiro dos últimos três meses mostra como o Planalto passou da corda bamba ao controle da pauta legislativa. Continue acompanhando a cobertura completa na seção de Notícias do nosso site.
Crédito da imagem: Angela Weiss/AFP
