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Lula diz que guerra tarifária com EUA terá início após resposta brasileira às sobretaxas de Trump

Santiago (Chile) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta segunda-feira, 21 de julho de 2025, que um conflito tarifário entre Brasil e Estados Unidos começará assim que o governo brasileiro apresentar sua reação à sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump sobre todas as importações de produtos brasileiros, medida que entra em vigor em 1º de agosto.

Falando a jornalistas no aeroporto da capital chilena, antes de retornar a Brasília, Lula afirmou que, por enquanto, o embate ainda não se caracteriza como guerra comercial, mas que a situação mudará tão logo a resposta brasileira seja formalizada. De acordo com o presidente, as condições impostas por Trump não são aceitáveis e ferem a relação bilateral.

A sobretaxa foi divulgada há duas semanas em carta publicada nas redes sociais de Trump. Na mensagem, o líder norte-americano justificou a medida como ato de retaliação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. Segundo Trump, a corte brasileira estaria perseguindo Bolsonaro, argumento refutado pelo governo brasileiro.

Desde o anúncio do tarifaço, a tensão entre os dois países aumentou. Na semana passada, o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) abriu investigação contra o Brasil por supostas práticas comerciais desleais, incluindo questionamentos ao Pix. O órgão pretende verificar se o sistema de pagamentos instantâneos restringe de forma injusta a entrada de exportações norte-americanas no mercado brasileiro.

Além das tarifas e da investigação, Trump determinou, na sexta-feira anterior, a revogação dos vistos norte-americanos de oito ministros do STF: Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Gilmar Mendes. Familiares dos magistrados também foram afetados pela medida.

Diante do endurecimento norte-americano, o Palácio do Planalto avalia acionar a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional, tão logo a sobretaxa seja aplicada. A legislação permite ao governo adotar sanções equivalentes às impostas por outro país, podendo incluir tarifas sobre produtos norte-americanos e restrições de vistos. Paralelamente, um “plano de contingência” em estudo prevê a criação de linhas emergenciais de crédito para setores empresariais brasileiros que venham a ser prejudicados pela elevação de tarifas.

Lula defendeu que empresários nacionais busquem diálogo direto com seus parceiros nos Estados Unidos para mitigar impactos comerciais. Segundo ele, o governo tratará empresas brasileiras e norte-americanas em condições de igualdade, seguindo a legislação vigente. “No Brasil, faremos valer as mesmas regras para todos”, afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de deterioração da relação diplomática, o presidente recordou sua convivência com quatro ex-mandatários dos Estados Unidos — Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Joe Biden — para sustentar que não adota postura radical. Disse ainda que, se depender de sua vontade, poderá manter “a melhor relação possível” com Trump, desde que haja diálogo entre chefes de Estado em defesa dos interesses de cada nação.

Apesar do discurso conciliador, Lula reiterou que não aceitará imposições consideradas abusivas. Para ele, “ninguém pode ameaçar um partido com decisão judicial” nem contestar a autonomia do Judiciário brasileiro. O presidente observou que o processo contra Bolsonaro tramita com base em provas constantes nos autos e refutou insinuações de intervenção política no julgamento.

O impasse ocorre enquanto Lula participava, em Santiago, de um encontro sobre democracia com lideranças de diversos países da América Latina. O evento abordou temas institucionais e mecanismos de proteção ao Estado de Direito na região.

Embora o Planalto não tenha divulgado detalhes da retaliação que poderá ser adotada, interlocutores do Ministério da Fazenda indicam que os setores mais vulneráveis às sobretaxas norte-americanas — como agronegócio, siderurgia e indústria de transformação — constam do levantamento em curso. O governo também monitora eventuais impactos sobre a inflação e o nível de emprego.

Autoridades brasileiras argumentam que o Pix, um dos alvos da análise do USTR, expandiu a bancarização e reduziu custos de transações financeiras no país, servindo de referência para outros sistemas internacionais. A equipe econômica considera a investigação um desdobramento da escalada política promovida por Trump, mais do que uma discussão técnica sobre práticas comerciais.

Líderes empresariais ouvidos reservadamente pelo governo manifestam preocupação com possíveis perdas de mercado caso Washington mantenha o tarifaço. Ao mesmo tempo, avaliam que ações coordenadas de ambos os governos poderiam evitar danos significativos às cadeias de valor bilaterais, especialmente em segmentos como soja, carne bovina, minério de ferro, produtos manufaturados e itens de alta tecnologia.

Por ora, o cronograma oficial segue inalterado: a sobretaxa norte-americana entra em vigor em 1º de agosto, e a reação brasileira deverá ser anunciada antes dessa data. Se as negociações não avançarem, a expectativa do Palácio do Planalto é aplicar medidas equivalentes imediatamente após o início das novas tarifas, inaugurando formalmente a disputa tarifária entre as duas maiores economias do continente.

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