Impasse tarifário ameaça parceria entre Brasil e EUA para exploração de terras raras

Brasília – Negociações discretas entre Brasil e Estados Unidos para viabilizar investimentos na cadeia produtiva de terras raras sufocaram após a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, medida anunciada por Washington no mês passado.
O plano conjunto vinha sendo discutido desde 2022 e incluía assistência técnica, aporte de capital e possibilidade de fornecimento futuro ao Departamento de Defesa norte-americano, segundo diplomatas dos dois países. A iniciativa tinha como objetivo reduzir a dependência ocidental da China, responsável por cerca de 90% do mercado global de processamento desses 17 elementos químicos essenciais para carros elétricos, turbinas eólicas, drones e armamentos guiados.
Reservas estratégicas
Com estimadas 21 milhões de toneladas, o Brasil detém entre 19% e 23% das reservas mundiais de terras raras, ficando atrás apenas da China em volume. Atualmente, apenas a mina Serra Verde, no estado de Goiás, produz o insumo em pequena escala; o material ainda é enviado ao território chinês para acabamento.
Visitas e acordos em andamento
Representantes do governo Biden desembarcaram em território brasileiro pelo menos cinco vezes entre 2022 e 2024. As agendas incluíram inspeções a laboratórios que pretendem transformar óxidos de terras raras em ímãs de alta potência e encontros com a associação de mineração nacional. No ano passado, investidores dos Estados Unidos e do Reino Unido aportaram US$ 150 milhões na Serra Verde, investimento apoiado por órgãos oficiais norte-americanos.
Tarifas abalam o diálogo
A tensão irrompeu quando o então presidente Donald Trump adicionou o Brasil à lista de países sujeitos a tarifa de 50%. Poucos dias antes, diplomatas norte-americanos indicavam que o acesso aos minerais estratégicos amazônicos deveria integrar negociações comerciais mais amplas. Ao reagir, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a postura como ameaça à soberania nacional: “Ninguém põe a mão”, declarou.
O choque tarifário esfriou a mesa de conversas, e autoridades brasileiras passaram a buscar cooperação com outros parceiros, como Índia e Espanha. Uma empresa de georreferenciamento espanhola já auxilia no mapeamento dos depósitos, enquanto um consórcio de universidades e empresas estrangeiras trabalha para instalar capacidade de processamento no país.
Impacto para investidores
As tarifas foram acompanhadas por centenas de exceções, porém as terras raras ficaram de fora. Para Sergio Fontanez, ex-presidente do Banco de Exportação e Importação dos EUA, a manutenção da sobretaxa tende a inibir novos aportes privados norte-americanos no setor mineral brasileiro.

José Fernandez, ex-subsecretário de Estado norte-americano envolvido nas tratativas, reconhece o retrocesso: “Estávamos diante de uma porta aberta; agora não sei se isso se voltará contra nós, mas certamente não ajuda”, afirmou.
Apesar do revés, o Serviço Geológico do Brasil mantém otimismo. “Ainda há muito a ser pesquisado”, disse o diretor-presidente Inácio Melo, destacando o potencial nacional para criar uma cadeia completa — da lavra ao ímã acabado — nos próximos anos.
Quer acompanhar mais notícias sobre economia e política externa? Visite a seção de notícias do nosso site e fique por dentro dos temas que movimentam o Brasil e o mundo.
Com informações de InfoMoney