Paulo Figueiredo pressiona por sanções dos EUA e diverge da política externa do avô militar

São Paulo — A atuação do empresário bolsonarista Paulo Figueiredo nos Estados Unidos, em defesa de sanções contra o Brasil, contrasta com a linha de independência e proteção à soberania adotada pelo avô, o ex-presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985), último general a comandar o país.
Lobby em Washington
Ao lado do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Paulo Figueiredo busca que o governo norte-americano aplique medidas comerciais ao Brasil em resposta a decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. O pedido foi enquadrado na seção 301 da Lei de Comércio dos EUA, mecanismo usado para investigar práticas consideradas desleais.
Postura do ex-presidente na ditadura
Durante o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU em 1982, João Figueiredo condenou a ocupação soviética do Afeganistão, mas rejeitou interferências externas. A orientação, conhecida como “pragmatismo ecumênico e responsável”, buscava ampliar a margem de manobra do Brasil, mantendo diálogo com Washington sem abrir mão de autonomia.
O governo Figueiredo também reconheceu a soberania argentina sobre as Malvinas, reforçou relações na América do Sul e levou o presidente a visitar países africanos pela primeira vez. Em 1984, a Política Nacional de Informática restringiu importações para estimular a indústria nacional, provocando ameaça de sobretaxa de 100% anunciada pelo presidente Ronald Reagan. A retaliação não se concretizou, mas ilustra o conflito comercial com os EUA.
Análise de especialistas
Para o pesquisador Dawisson Belém Lopes, da UFMG, o ex-presidente buscava “afinidade com os Estados Unidos, tanto quanto possível”, sem abdicar de negociações com outros blocos, postura que, segundo ele, seria compatível com iniciativas atuais como o Brics. Já o professor Guilherme Casarões, da FGV, afirma que João Figueiredo manteve posição “protecionista” e patriótica, em desacordo com a convocação de potências estrangeiras para interferir na política brasileira.

Investigação no STF
Paulo Figueiredo integra o quinto núcleo da denúncia sobre a tentativa de golpe investigada pelo Supremo. Ele é o único do grupo ainda não julgado pela Primeira Turma. A Procuradoria-Geral da República o acusa de atuar, a partir dos EUA, para influenciar decisões internas e favorecer Jair Bolsonaro.
Para analistas, o pedido de sanções encaminhado por Paulo Figueiredo entra em choque com o princípio de soberania defendido pelos militares após 1964, evidenciando a distância entre a estratégia externa do neto e a do avô durante a ditadura.