Governo adota silêncio estratégico após prisão domiciliar de Bolsonaro

O Palácio do Planalto orientou integrantes da administração federal a manterem discrição pública sobre a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. A recomendação partiu do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, na segunda-feira (5).
Objetivo é neutralizar discurso de perseguição
Segundo assessores, a principal preocupação é evitar que declarações oficiais reforcem a narrativa de vitimização sustentada por aliados do ex-presidente. A avaliação interna é de que manifestações governamentais poderiam ser usadas para mobilizar a base bolsonarista e ampliar a tensão política.
Risco de atrito com os Estados Unidos
Outro fator relevante é a relação com Washington. O governo brasileiro teme que a detenção de Bolsonaro seja invocada pelo presidente americano, Donald Trump, como argumento para dificultar negociações comerciais ou retomar sanções. Na mesma semana, entra em vigor uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pela Casa Branca.
Decisão do STF e reação contida
Na segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro por descumprimento de ordem judicial que o proibia de aparecer em redes sociais, direta ou indiretamente. O ex-presidente foi filmado em manifestações ocorridas no domingo (3). Dentro do Planalto, a linha adotada repete a postura de silêncio adotada quando o STF impôs ao ex-mandatário o uso de tornozeleira eletrônica.
Leitura interna sobre a estratégia de Bolsonaro
Ministros ouvidos sob reserva afirmam que o próprio Bolsonaro teria provocado a medida cautelar ao violar deliberadamente as restrições, com a intenção de intensificar o clima de confronto e de angariar apoio popular. Para o governo, qualquer exploração política do episódio deve ficar restrita à militância e fora da agenda oficial.

Prioridade: reduzir tensões e avançar em acordos
Assessores de Lula defendem concentrar esforços na negociação com os Estados Unidos para minimizar o impacto tarifário e preservar avanços diplomáticos recentes. A ordem é evitar declarações que possam ser interpretadas como ingerência no processo judicial ou como provocação ao governo norte-americano.
Diante desse cenário, o Planalto seguirá monitorando o desdobramento do caso, mas sem comentários públicos além das notas oficiais estritamente necessárias.