Governadores aliados de Bolsonaro mantêm silêncio após 24 h sobre veto dos EUA a Alexandre de Moraes

Vinte e quatro horas após o governo de Donald Trump vetar a entrada do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes nos Estados Unidos, os principais governadores alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro continuam sem se pronunciar sobre a medida. Questionadas no sábado (19), as equipes de Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Ratinho Júnior (Paraná), Cláudio Castro (Rio de Janeiro), Jorginho Mello (Santa Catarina) e Wilson Lima (Amazonas) informaram que não há previsão de manifestações.
A decisão americana, divulgada na sexta-feira (18), abrange Moraes e outros sete integrantes da Corte. A Casa Branca determinou a revogação dos vistos dessas autoridades, impedindo a entrada delas e de familiares imediatos em território norte-americano. O anúncio foi feito pelo secretário de Estado, Marco Rubio, por meio de rede social.
O veto ocorreu poucas horas depois de uma operação da Polícia Federal, autorizada pelo próprio STF, que impôs uma série de restrições a Bolsonaro. O ex-presidente teve o passaporte recolhido, passou a usar tornozeleira eletrônica, ficou proibido de utilizar redes sociais e está impedido de manter contato com investigados. Bolsonaro atribuiu as decisões judiciais a motivações políticas.
Os governadores consultados se posicionaram publicamente contra a operação da Polícia Federal ainda na sexta-feira. Com exceção de Ratinho Júnior, todos publicaram mensagens nas redes sociais criticando as determinações impostas a Bolsonaro. Apesar disso, nenhum deles comentou a sanção dos Estados Unidos ao ministro do STF até o fechamento desta reportagem.
Tarcísio, Zema, Castro, Jorginho Mello, Ratinho Júnior e Wilson Lima integram o grupo de chefes de Executivo estadual mais próximos a Bolsonaro. Eles participaram de mobilizações convocadas pelo ex-presidente, como o ato realizado em abril, na avenida Paulista, que pedia anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes.
A afinidade política com Bolsonaro é vista por analistas como estratégia para herdar o eleitorado do ex-presidente nas próximas eleições municipais, em 2024, e, posteriormente, na disputa presidencial de 2026. O silêncio diante do veto americano, no entanto, marca uma diferença em relação ao posicionamento rápido adotado contra as medidas judiciais do STF.
Outro aliado, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), declarou que só se pronunciará depois de retornar de viagem oficial ao Japão, prevista para terça-feira (22). Em vídeo divulgado nas redes sociais, Caiado classificou o momento como “crise política” entre Brasil e Estados Unidos, citou impactos econômicos de tarifas recém-anunciadas por Washington e afirmou que o governo federal “não esboça nenhuma ação” diante do cenário. Ele não mencionou o Supremo nem o veto a Moraes.
O veto de Washington veio na esteira de uma série de visitas do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) à capital norte-americana. Ao longo dos últimos meses, o filho do ex-presidente manteve reuniões com congressistas republicanos e integrantes do governo Trump para solicitar medidas contra Moraes, apontado pelo bolsonarismo como responsável por decisões consideradas “exorbitantes”.

Imagem: redir.folha.com.br
Logo após a Casa Branca anunciar a revogação dos vistos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a iniciativa como “arbitrária e sem fundamento”. Em mensagem publicada na manhã de sábado, Lula afirmou que presta solidariedade a Moraes e aos demais ministros atingidos e declarou que “nenhum tipo de intimidação” comprometerá a defesa do Estado Democrático de Direito.
A sanção dos Estados Unidos alimenta tensões entre os dois países no momento em que se intensifica a disputa política interna brasileira em torno das decisões do STF. Além de proibir a entrada de magistrados, a Casa Branca sinalizou que pode adotar outras medidas, como eventual bloqueio de bens, caso considere necessário.
Enquanto o Palácio do Planalto reagiu de imediato, governadores próximos a Bolsonaro, até o momento, limitam-se a críticas às restrições impostas ao ex-presidente. A ausência de declarações sobre o veto internacional contrasta com a postura assertiva que assumem quando decisões judiciais envolvem o líder que buscam apoiar.
Até o início da noite de sábado, não havia registro de comentários oficiais de Tarcísio, Zema, Ratinho Júnior, Castro, Jorginho Mello ou Wilson Lima sobre a revogação de vistos imposta pela administração Trump. Nos canais oficiais, as agendas dos governadores seguiram focadas em compromissos locais e anúncios de programas estaduais.
O episódio acrescenta um novo elemento à já conturbada relação entre o bolsonarismo e o Supremo. Além das investigações sobre tentativa de golpe, uso de milícias digitais e disseminação de notícias falsas, agora o debate alcança o terreno diplomático, com repercussões que podem influenciar a campanha eleitoral do próximo ano.
Seja por cautela diplomática, cálculo político ou alinhamento ideológico, o fato é que, passadas 24 horas, os principais governadores aliados de Bolsonaro ainda evitam se posicionar sobre uma decisão que escalonou o conflito entre o ex-presidente e o ministro Alexandre de Moraes para além das fronteiras brasileiras.