Filho de Joe Biden afirma que ex-presidente usou zolpidem antes de debate decisivo com Donald Trump

Hunter Biden, filho do ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden, declarou em entrevista publicada na segunda-feira, 21 de julho de 2025, que o pai estaria sob efeito de zolpidem — medicamento comercializado como Ambien — no debate de 27 de junho de 2024 contra o então candidato republicano Donald Trump. Segundo ele, o uso do hipnótico, aliado à exaustiva agenda de viagens internacionais, teria contribuído para o desempenho considerado fraco que, semanas depois, levou o democrata a desistir da tentativa de reeleição.
Na conversa com o youtuber Andrew Callaghan, Hunter relatou que o ex-mandatário, então com 81 anos, havia percorrido longas distâncias logo antes do confronto televisivo, incluindo deslocamentos para a cúpula do G7 na Itália e para as cerimônias do 80º aniversário do desembarque aliado na Normandia, na França. De acordo com o filho do ex-presidente, a combinação de fadiga e uso do remédio para induzir sono teria deixado Joe Biden lento e desatento diante das câmeras instaladas nos estúdios da CNN, em Atlanta.
O debate de 2024 marcou o primeiro encontro direto entre Biden e Trump na campanha presidencial daquele ano e foi amplamente apontado como um ponto de inflexão. Na ocasião, o então presidente apresentou dificuldades para concluir frases e manteve postura hesitante diante dos ataques do adversário republicano. A repercussão negativa acentuou questionamentos sobre sua capacidade de governar por mais quatro anos e desencadeou pressões internas dentro do Partido Democrata.
Menos de um mês depois do evento, em 21 de julho de 2024, Joe Biden retirou oficialmente sua candidatura à reeleição. Em comunicado divulgado à época, justificou a decisão como um ato em favor do país e do partido, reconhecendo que seu desempenho no debate alimentara dúvidas quanto à viabilidade de uma segunda gestão. Ele também admitiu ter sentido sonolência durante o embate televisivo, atribuindo o cansaço à sequência de viagens e ao fuso horário, mas não mencionou qualquer medicação.
A Casa Branca, ainda sob sua administração, buscou minimizar a controvérsia naqueles dias. A então secretária de imprensa Karine Jean-Pierre afirmou que o presidente não havia consumido remédios para resfriado e limitou-se a citar um quadro gripal leve. As novas declarações de Hunter Biden, contudo, adicionam outro elemento à narrativa, indicando o possível uso de um hipnótico conhecido por seus efeitos residuais quando o paciente permanece acordado.
Durante a entrevista, Hunter também criticou integrantes de peso do Partido Democrata que, segundo ele, “abandonaram” o presidente após o debate. Entre os nomes citados estão a ex-presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi, a deputada Alexandria Ocasio-Cortez e o ator George Clooney. Para o filho do ex-chefe de Estado, esses apoiadores teriam reforçado a percepção de que Biden era “velho demais” para permanecer no cargo, contribuindo para o desgaste político que culminou na retirada da candidatura.
Além de defender o pai, Hunter fez ataques ao atual ocupante da Casa Branca — Donald Trump, reconduzido ao poder após a eleição de novembro de 2024 — e ao presidente de El Salvador, Nayib Bukele. Ele classificou ambos como “ditadores” e criticou o acordo firmado entre Washington e San Salvador para a deportação de migrantes salvadorenhos para o presídio de segurança máxima Cecot. Segundo Hunter, a medida contraria valores humanitários históricos dos Estados Unidos.
O filho do ex-presidente também condenou o discurso contra a imigração irregular, frequentemente explorado por Trump. Na avaliação dele, os trabalhadores sem documentação são fundamentais em vários setores da economia, como hotelaria e alimentação. Hunter argumentou que a demonização desse grupo estimula preconceitos e ignora a contribuição cotidiana de milhões de imigrantes.
Durante a mesma conversa, ele sugeriu que, se ocupasse a presidência no futuro, adotaria postura dura contra governos que se recusassem a receber seus cidadãos deportados. Ao falar sobre El Salvador, chegou a dizer que cogitaria uma intervenção americana caso Bukele não aceitasse a repatriação — declaração que, embora hipotética, gerou repercussão nas redes sociais.
Até o momento, nem Joe Biden nem assessores próximos comentaram publicamente a alegação de uso de zolpidem. Não há registro de confirmação ou negação sobre a administração do medicamento naquela ocasião. A campanha democrata de 2024 tampouco divulgou detalhes médicos que sustentem ou refutem a versão apresentada por Hunter.
O zolpidem é indicado para tratamento de insônia de curto prazo e costuma ser prescrito para ser tomado imediatamente antes de dormir, pois pode causar sonolência e dificuldades de coordenação caso o paciente permaneça acordado. Nos Estados Unidos, a bula alerta para riscos de confusão mental e lapsos de memória se o usuário não tiver uma noite completa de repouso após a ingestão.
As declarações de Hunter Biden surgem exatamente um ano após o anúncio da desistência de Joe Biden, coincidência que reacende debates sobre a sucessão democrata e sobre a influência de fatores de saúde na vida política americana. À medida que o país se aproxima das eleições legislativas de meio de mandato de 2026, o episódio volta a colocar em destaque as discussões sobre idade, transparência médica e preparação dos principais líderes do país.