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Executivos trocam jornadas sem sono por ‘sleepmaxxing’ e impulsionam mercado global de descanso

Um número crescente de presidentes de empresas e fundadores de startups abandonou a antiga cultura de trabalho baseada em poucas horas de repouso e medicamentos estimulantes. Influenciados pela tendência de “sleepmaxxing” popularizada pela Geração Z, esses líderes passaram a enxergar o sono como componente estratégico de desempenho e ferramenta de prestígio corporativo.

O efeito dessa mudança já se reflete no mercado. Estimativas indicam que a economia global do sono supera US$ 500 bilhões, enquanto o segmento de produtos especificamente voltados ao ato de dormir deve passar de US$ 150 bilhões até 2034. A expansão abrange desde tecnologias vestíveis até experiências de turismo do sono, fomentadas por soluções de inteligência artificial voltadas ao bem-estar.

Peter Barsoom, fundador da marca de cannabis 1906, ilustra essa transformação. Depois de duas décadas na área financeira, quando costumava ir para a cama após a meia-noite e levantar às 4h30, o executivo passou a reservar entre seis e oito horas regulares de descanso. Aplicativos de histórias relaxantes, como o Calm, fazem parte da nova rotina noturna adotada por ele.

A substituição do “trabalhe enquanto eles dormem” por hábitos centrados no repouso contrasta com o modelo que predominou em Wall Street e no setor de tecnologia por anos. Nessa lógica, figuras como Jack Dorsey ou Elon Musk eram citadas como exemplos de sucesso sustentado por quatro horas de sono ou noites em colchões improvisados no escritório. Hoje, líderes como Daniel Ramsey, diretor-executivo da MyOutDesk, afirmam que a privação crônica de descanso não garante resultados duradouros.

Ramsey, aos 47 anos, adotou dispositivos de monitoramento do sono e passou a impor limites ao trabalho noturno. O executivo relata ganhos de clareza mental e redução do microgerenciamento, defendendo que o sono adequado facilita a tomada de decisões e a condução de equipes sob pressão.

A valorização do sono também pauta a rotina de Arianna Huffington, à frente da Thrive. Ela evita levar o celular para o quarto, opta por chás calmantes e leitura leve antes de dormir. Já Tom Pickett, responsável pela plataforma Headspace, descreve o preparo para a noite como “treinamento” para desafios corporativos do dia seguinte.

Entre empresários de grande porte, Jeff Bezos tornou-se exemplo frequente. O fundador da Amazon declarou priorizar oito horas de repouso para manter energia e qualidade de julgamento, reforçando a ideia de que o descanso se traduz em melhores decisões estratégicas.

Especialistas apontam que o discurso corporativo mudou expressivamente desde o início dos anos 2000. A cientista do sono Wendy Troxel observa que, se antes era necessário convencer executivos de que dormir não era tempo perdido, agora o tema integra protocolos de alta performance. Mesmo assim, muitos ainda relatam dificuldade em atingir ciclos completos de descanso, fator que segue alimentando a busca por soluções de mercado.

Anéis inteligentes, máscaras de dormir com sensores e colchões que custam até US$ 20 mil figuram entre os itens mais procurados. O anel OURA — que parte de US$ 300 e exige assinatura mensal — já ultrapassou 2,5 milhões de unidades vendidas, tornando-se acessório tão cobiçado quanto relógios de luxo em almoços executivos.

Alguns gestores levam o conceito ao extremo. Arianna Huffington viaja sempre com máscara de dormir e fita adesiva para bloquear luzes de hotéis. A especialista em bem-estar Kayla Barnes destinou mais de US$ 11 mil a um colchão orgânico e cerca de US$ 10 mil a persianas blackout. Daniel Ramsey, por sua vez, investiu dezenas de milhares de dólares em uma cama Sleep Number de US$ 20 mil.

A participação da Geração Z reforça o movimento. “Sleepfluencers” oferecem, em redes sociais, receitas de coquetéis sem álcool, playlists relaxantes e tutoriais de respiração focados na qualidade do sono. Amrita Bhasin, de 24 anos e CEO da Sotira, gasta aproximadamente US$ 150 mensais em cortinas blackout e máscaras especiais. Para ela, maratonas de programação que exigem virar a noite já não fazem sentido em estratégias sustentáveis de crescimento.

Analistas de bem-estar veem o sono assumir novo status: além de necessidade fisiológica, tornou-se indicador de disciplina, poder aquisitivo e capital intelectual. À medida que executivos conectam repouso a produtividade, a tendência é que investimentos em dispositivos, mobiliário e serviços especializados continuem a crescer, consolidando o sono como pilar central na busca por vantagem competitiva e saúde de longo prazo.

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