Ex-major diz ao STF que ignorou pedidos de Braga Netto para hostilizar comandantes

O ex-major do Exército Ailton Barros afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, nesta quinta-feira (24), que não atendeu aos pedidos do general da reserva Walter Braga Netto para atacar chefes militares contrários à tentativa de golpe de 2022. Barros classificou as mensagens do ex-ministro da Defesa como “choradeira de perdedor”.
Depoimento focou em mensagens trocadas no fim de 2022
Segundo Barros, as conversas com Braga Netto ocorreram entre 14 e 19 de dezembro de 2022, período em que o general demonstrava frustração com o então comandante do Exército, general Freire Gomes, e com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, por rejeitarem iniciativas golpistas. Nas trocas de WhatsApp, Braga Netto sugeriu “infernizar a vida” dos oficiais e “oferecer a cabeça aos leões”.
Barros disse ter interpretado o conteúdo como mero desabafo pós-eleição. “Entendi que era lamúria de campanha perdida”, declarou.
Publicação em rede social foi estratégia política, afirma defesa
O ex-major foi questionado sobre uma mensagem publicada no X (antigo Twitter) em 19 de dezembro de 2022, na qual convocava seguidores a “separar os homens das criancinhas” e “responsabilizar os omissos”. No STF, alegou ter usado linguagem ambígua para atrair eleitores no Rio de Janeiro, Estado onde planejava concorrer. “Minha cabeça estava voltada para a política; quis gerar engajamento”, explicou, acrescentando que o texto utilizou “metáforas aprendidas em aulas de marketing”.
Processo envolve dois núcleos de investigados
Barros é réu no chamado núcleo 2 da investigação, composto por ex-integrantes de patentes inferiores e militares acusados de disseminar desinformação sobre as eleições. Entre os denunciados estão Ângelo Denicoli, Giancarlo Rodrigues, Guilherme Almeida, Reginaldo Abreu, Marcelo Bormevet e Carlos Cesar Rocha.

Imagem: redir.folha.com.br
Paralelamente, o STF ouviu nesta quinta-feira o núcleo que reúne ex-auxiliares de alto escalão do governo Jair Bolsonaro, como Filipe Martins e Silvinei Vasques, suspeitos de articular medidas para viabilizar o golpe.
As audiências são conduzidas por juízes auxiliares do ministro Alexandre de Moraes e fazem parte da fase de instrução dos processos sobre a trama golpista de 2022.