Uma técnica de “imunização” contra desinformação reduziu a adesão a teorias de fraude eleitoral nos Estados Unidos e no Brasil, aponta artigo publicado nesta sexta-feira (29) na revista Science Advances. A pesquisa, liderada por John Carey, do Dartmouth College (EUA), contou com participação da brasileira Marília Gehrke, da Universidade de Groningen (Holanda).
Entre outubro de 2022 e fevereiro de 2023, o grupo realizou três experimentos on-line com 2.000 a 3.000 participantes cada. Dois testes envolveram eleitores norte-americanos; o terceiro focou em eleitores brasileiros. O objetivo era medir o impacto de diferentes abordagens na percepção sobre a correção dos pleitos e a incidência de fraudes.
Como funcionou a “vacina”
Os pesquisadores compararam duas estratégias. A primeira, chamada “prebunking”, expõe o voluntário a uma versão leve da informação falsa e, em seguida, oferece dados verificados que demonstram a confiabilidade do processo eleitoral. A segunda recorre a “fontes com credibilidade” — figuras públicas vistas como próximas ao grupo que propaga a desinformação, mas que se posicionam contra a teoria conspiratória.
Cada método foi confrontado com um placebo, composto por textos neutros, como dicas de saúde ou atualização de notícias gerais.
Resultados nos EUA
No público que declarou apoio a Donald Trump, a crença em fraudes caiu de 41,3% no grupo placebo para 24,4% a 19% entre os que receberam o “prebunking”. Considerando todos os entrevistados, a taxa passou de 19,5% para uma faixa entre 12,3% e 10,6%.
Duas variações do “prebunking” foram testadas. Em uma, os voluntários eram alertados sobre a atuação de grupos conspiratórios antes de receber os fatos; na outra, recebiam apenas as informações corretas. O modelo sem alerta prévio apresentou leve vantagem, possivelmente por evitar reações defensivas.
Resultados no Brasil
Entre apoiadores convictos de Jair Bolsonaro, a confiança nos resultados chegou a 28% após o “prebunking”, ante 20% no grupo de controle. Segundo Gehrke, ainda não há explicação definitiva para o efeito mais forte entre conspiracionistas, mas a hipótese é que quem está mais desinformado tem mais espaço para rever crenças.

Apesar do impacto modesto, os autores consideram os dados promissores. “As pessoas são capazes de mudar suas percepções, e jornalistas e gestores eleitorais têm papel relevante na divulgação de informações corretas”, afirma a pesquisadora brasileira.
Para os especialistas, a técnica de “prebunking” demonstrou leve superioridade em relação ao uso de fontes aliadas, mas ambas superaram o placebo na redução de crença em fraudes eleitorais.
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Com informações de Folha de S.Paulo