Derrotas no Congresso expõem fragilidade da articulação do Planalto e colocam Motta e Alcolumbre sob pressão

A série de reveses sofridos pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última semana acendeu o alerta no Palácio do Planalto e abalou o prestígio dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Na quarta-feira (20), dois episódios chamaram atenção: a aprovação do retorno do voto impresso em comissão do Senado e a virada que entregou à oposição o comando da CPI do INSS. Ambos contaram com apoio de parlamentares da base e foram vistos como demonstração de fragilidade da coordenação política do Executivo.
Busca por culpados
A perda de controle sobre a CPI desencadeou uma “caça às bruxas” entre aliados do governo, que passaram a apontar supostos indisciplinados, omissos ou traidores. Deputados e senadores citam dois motivos principais para o descontentamento:
- atraso na liberação de recursos para as bilionárias emendas parlamentares;
- reação considerada tímida de Motta e Alcolumbre diante do que classificam como ofensiva do STF sobre prerrogativas do Legislativo.
Apesar de comandarem quatro ministérios, União Brasil e PP lideraram as articulações que culminaram na derrota do governo. O presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) foram apontados como protagonistas da manobra que alterou a correlação de forças na CPI.
Planalt o reage
Após o revés, Lula convocou Motta para reunião no Palácio da Alvorada e, em seguida, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) chamou líderes aliados às pressas. Gleisi reconheceu falha na mobilização: “Vamos corrigir os erros para que a CPI não seja instrumentalizada”, afirmou.
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), admitiu que a equipe “subestimou” a oposição, enquanto o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), classificou o episódio como “apagão” na articulação.
Motta e Alcolumbre no foco
Aliados relatam que Motta já vinha acumulando desgaste. Durante o motim bolsonarista que paralisou o Legislativo, enfrentou dificuldades para retomar a presidência da Câmara e não conseguiu apoio para punir manifestantes. Na CPI, indicou Ricardo Ayres (Republicanos-TO) para a relatoria, mas o posto acabou ficando com Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) após a vitória oposicionista.
Motta minimizou a cobrança: “A falha foi da articulação do governo, não minha”. Mesmo assim, líderes do centrão dizem que sua autoridade ficou novamente arranhada.
No Senado, Alcolumbre também teve a liderança questionada. Parlamentares disseram que o Planalto confiou que ninguém desafiaria sua palavra quando prometeu a relatoria da CPI a Omar Aziz (PSD-AM). Com a reviravolta, Alcolumbre comentou apenas: “Minha autoridade desrespeitada? Eu nem voto na CPI”.

Considerado obstáculo à anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro, Alcolumbre reforçou que não pautará impeachment contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Em meio ao embate, integrantes do governo defendem estreitar laços com Motta e fortalecê-lo para conter o avanço do bolsonarismo, enquanto outros pregam revisão urgente da estratégia de liberação de emendas para recompor a base.
As próximas votações no Congresso serão vistas como termômetro para medir se o Palácio do Planalto conseguirá reorganizar sua tropa e se Motta e Alcolumbre retomarão o controle sobre suas respectivas Casas.
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Com informações de Folha de S.Paulo