Brasília – O advogado Matheus Milanez, responsável pela defesa do general da reserva Augusto Heleno, afirmou que as provas apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF) não sustentam a acusação de participação em eventual tentativa de golpe de Estado e disse acreditar na absolvição de seu cliente no julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em entrevista, Milanez rebateu a relevância do caderno apreendido pela Polícia Federal, apelidado de “caderneta do golpe”. Segundo ele, o material contém apenas anotações pessoais, como lembretes de contas bancárias, senhas, compromissos rotineiros e observações sobre viagens, sem qualquer plano de ruptura institucional. “O Ministério Público tenta transformar uma agenda doméstica em manual golpista”, declarou.
Argumento central: afastamento de Bolsonaro
A estratégia da defesa concentrou-se em demonstrar que o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) se distanciou progressivamente do então presidente Jair Bolsonaro a partir da segunda metade do mandato, especialmente após a filiação de Bolsonaro ao PL e a entrada do Centrão no governo. Testemunhas do alto escalão do Palácio do Planalto, mencionadas por Milanez, relataram que Heleno passou a ser consultado com menor frequência e já não permanecia no gabinete presidencial.
Para reforçar essa tese, o advogado lembrou depoimentos que indicam a ausência de discussões políticas no interior do GSI e destacou que o general não foi citado como indiciado no relatório da chamada “Abin paralela”. Pelo contrário, disse Milanez, houve 11 monitoramentos telefônicos dirigidos ao próprio Heleno, o que, em sua visão, descaracteriza a hipótese de que ele integrasse um núcleo de espionagem irregular.
Críticas à atuação da acusação
Milanez acusou a Procuradoria-Geral da República de “desconsiderar provas exculpatórias” e basear-se apenas em informes da Polícia Federal. Ele contou que a defesa insistiu por meses no acesso integral aos autos e só pôde examinar a íntegra do material da Operação Tempos Veritatis dois dias antes do interrogatório no STF, oportunidade em que, garante, foi possível “desconstruir a narrativa” sobre a caderneta.
Durante a sustentação oral, o advogado também questionou a postura do relator Alexandre de Moraes, alegando que o magistrado formulou mais perguntas do que o Ministério Público, o que, segundo ele, viola o princípio do sistema acusatório. Apesar das críticas, Milanez afirmou não temer retaliação, classificando-as como parte do debate jurídico.

Expectativa de resultado
O defensor reservou 50 dos 60 minutos de sustentação para pedir absolvição total. “Qualquer resultado diferente disso não me deixará satisfeito”, resumiu. Ele argumenta que, desde o oferecimento da denúncia, nenhuma nova evidência apontou envolvimento do general em manobras antidemocráticas.
Milanez disse ter ficado “feliz” com a repercussão positiva da defesa, que utilizou recursos de datashow para exibir trechos da caderneta e uma tabela comparativa das páginas apontadas pelo MPF. “As pessoas entenderam que não há sequência lógica que sustente a acusação”, assegurou.
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Com informações de InfoMoney