Centrão quer CPI para rastrear vídeos com IA que atacam partidos

Integrantes do centrão articulam a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para identificar autores e financiadores de vídeos produzidos com inteligência artificial que circulam nas redes sociais com críticas aos principais partidos do bloco.
Acusações e reação parlamentar
Os vídeos apontam PL, MDB, PP, PSDB, União Brasil e Novo como “inimigos do povo”. Quatro líderes do centrão ouvidos pela reportagem afirmam que o conteúdo replica a narrativa de confronto entre ricos e pobres atribuída ao Palácio do Planalto. Sem apresentar provas, eles alegam suspeitar de participação do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) publicou mensagem em rede social insinuando envolvimento do Executivo e defendendo a instalação de uma “CPI da propaganda e das milícias digitais”. Segundo o parlamentar, a investigação deve apurar se recursos públicos financiam a produção dos vídeos.
Outros dois líderes do grupo, sob reserva, declararam que há votos suficientes para protocolar o requerimento de criação da CPI assim que o Congresso retomar as atividades, em agosto. Eles avaliam que os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), não devem impor obstáculos, pois também foram citados em publicações online.
Planos da investigação
A ideia é solicitar a quebra de sigilo de perfis que divulgaram o material, considerados pelos parlamentares como parte de uma “milícia digital”. Um dos articuladores defende a medida alegando que o clima de hostilidade pode agravar o já tenso relacionamento entre Executivo e Legislativo.

Imagem: redir.folha.com.br
Resposta do governo e do PT
Integrantes da base governista negam qualquer participação. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, chamou a suspeita de “devaneio” e citou investigações pendentes sobre a gestão anterior. O secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, afirmou que o partido não produz ataques ao centrão, pois depende dos seus votos para aprovar projetos. Já o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, defendeu um debate mais amplo sobre a regulamentação de redes sociais e inteligência artificial.
Contexto da disputa digital
O ambiente virtual tornou-se palco prioritário da disputa política. A federação União Progressista já utilizou IA para rebater uma peça petista sobre justiça tributária, enquanto o PL, de Jair Bolsonaro, investe em impulsionamento de publicações contrárias ao governo. Aliados de Lula argumentam que a esquerda passou a equilibrar a presença nas redes, o que explicaria a irritação do centrão.
A decisão sobre a abertura da CPI deve ocorrer nas primeiras semanas após o recesso parlamentar. Caso a comissão seja instalada, os parlamentares planeiam convocar representantes de plataformas digitais e especialistas em inteligência artificial para esclarecer a origem dos conteúdos e eventuais responsabilidades legais.