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Sanções de Trump ao STF reavivam mobilização bolsonarista e devolvem liderança à direita no WhatsApp

A decisão do governo Donald Trump, em 18 de julho, de aplicar sanções a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e revogar seus vistos de entrada nos Estados Unidos alterou o equilíbrio das discussões políticas em grupos de WhatsApp no Brasil. Dados da empresa de monitoramento Palver, que observa cerca de 100 mil grupos, mostram que a medida devolveu a primazia da direita tanto no conteúdo viral quanto nas conversas orgânicas, após três semanas de predominância governista nessas últimas.

Segundo a Palver, há duas dinâmicas distintas no aplicativo: as mensagens encaminhadas “com frequência”, que indicam alto poder de disseminação, e os diálogos espontâneos, formados por comentários e réplicas entre usuários. A direita tradicionalmente domina o primeiro segmento, mas vinha recuando no segundo desde o início de julho. A virada ocorreu após a ofensiva de Trump contra o STF, incorporada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro como validação externa da tese de “ditadura da toga”.

Nos dias 18 e 19 de julho, 75,7% das mensagens virais analisadas tinham teor crítico ao STF, com destaque para o ministro Alexandre de Moraes. No campo orgânico, 53% das interações também passaram a atacar a Corte. Até então, a proporção era favorável ao governo em uma relação aproximada de 60% a 40%, impulsionada por vídeos gerados por inteligência artificial que ironizavam a suposta “taxação do BBB” e fortaleciam narrativas alinhadas ao Palácio do Planalto.

Ainda que a direita continuasse a liderar o volume de encaminhamentos, não conseguia converter essa vantagem em engajamento direto. Nem mesmo o anúncio, no começo do mês, de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, comemorado em vídeos bolsonaristas, alterou o quadro. As sanções direcionadas a Moraes e aos demais ministros, porém, ofereceram novo combustível emocional aos grupos alinhados a Bolsonaro, ao reforçar a ideia de perseguição política e de violação de liberdades civis.

As conversas que se seguiram ganharam tom de indignação, pedidos de intervenção cívico-militar e críticas aos demais Poderes. Mensagens classificaram o Congresso como “covarde” e acusaram generais de “traição” por não reagirem ao Supremo. Circulam também frases como “Trump fez o que os brasileiros não tiveram coragem de fazer”, acompanhadas de conteúdo que sugere fechamento de instituições. Palavras de ordem e ameaças veladas voltaram a frequentar as timelines dos grupos simpáticos ao bolsonarismo.

Do outro lado, defensores do STF reagiram em escala menor, mas mantiveram presença. Vídeos satirizando as punições impostas pela Corte, memes sobre tornozeleira eletrônica e slogans como “trabalha de domingo a domingo” ou “tá ficando gostosinho” buscam sustentar a narrativa contrária. Esse material, entretanto, aparece de forma fragmentada e sem articulação capaz de direcionar o debate, segundo o levantamento.

A tornozeleira converteu-se em símbolo visual de fácil compartilhamento. Para a base governista, as imagens reforçam a tentativa de associar Bolsonaro a supostos crimes de golpe; para os grupos bolsonaristas, o foco recai sobre a condição de “inocentes punidos” dos aliados do ex-presidente. Esse embate imagético contribui para manter o tema nas conversas e alimentar novas cadeias de encaminhamentos.

Os dados indicam que o ritmo de publicações pró-governo, que vinha em alta desde o fim de junho, perdeu força após o dia 18. Já os canais de direita ampliaram o volume de postagens e recuperaram o entusiasmo, abastecidos pela expectativa de novas retaliações internacionais a integrantes do Supremo. Nas ferramentas da Palver, palavras-chave relacionadas a “sanção”, “visto revogado” e “censura” apresentaram crescimento súbito nas buscas internas dos grupos monitorados.

Especialistas consultados pela plataforma observam que, embora o número total de mensagens não tenha sofrido variação expressiva, a mudança de tom indica realocação de energias dentro do ecossistema digital. O ambiente, que parecia convergir para um equilíbrio, voltou a pender à direita, que mostra capacidade de transformar um episódio diplomático em motor de engajamento doméstico.

A evolução do debate será acompanhada nos próximos dias, sobretudo diante da possibilidade de novas medidas do governo norte-americano contra autoridades brasileiras. Até lá, bolsonaristas buscam ampliar a repercussão da ofensiva de Trump, enquanto alas pró-STF tentam emplacar materiais que associem antigos episódios investigados pela Corte ao momento atual. A disputa segue aberta e, por ora, a direita reassumiu a dianteira nas rodas de conversa instaladas no aplicativo.

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