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Missão a Londres revela avanços britânicos em IA, fusão nuclear e computação quântica e acende alerta para o Brasil

Uma imersão empresarial promovida pelo Instituto Caldeira levou executivos brasileiros a dezoito compromissos em Londres para conhecer laboratórios, universidades, fundos de investimento e empresas dedicadas à inteligência artificial (IA), computação quântica e fusão nuclear. O roteiro confirmou que a próxima onda tecnológica já está em execução no Reino Unido e reforçou a necessidade de o Brasil acelerar sua integração a essa agenda.

Ecossistema que combina capital, talento e pesquisa

Londres concentra simultaneamente os principais centros financeiro, tecnológico, cultural e político do Reino Unido, situação incomum em relação a economias como a dos Estados Unidos, onde essas esferas se distribuem por diferentes cidades. Esse arranjo atrai profissionais do mundo inteiro e conecta-os a instituições acadêmicas de renome, como Oxford, Cambridge e University College London.

Os números ilustram a força do ecossistema: a capital britânica recebe o dobro de investimento em venture capital que qualquer outra cidade europeia, abriga aproximadamente 3 000 fundos e origina 20% das startups de IA do continente.

Da IA generativa aos agentes autônomos

O grupo observou que, depois da disseminação da IA generativa, o foco se desloca para agentes autônomos capazes de operar processos empresariais de ponta a ponta, aprendendo e se adaptando em tempo real. O desafio, entretanto, não se limita aos algoritmos: depende da capacidade das equipes em identificar casos de uso, reunir dados relevantes e implementar soluções rapidamente.

Em Oxford, especialistas enfatizaram que a vantagem competitiva virá da velocidade de adaptação, não apenas de ganhos de produtividade. Em Londres, a gestora Ascension relatou que 90% das startups avaliadas já incorporam IA como requisito mínimo, não como diferencial.

Para as companhias brasileiras, abre-se uma janela de oportunidade: integrar IA a produtos, canais e experiências de forma estratégica pode reposicionar negócios inteiros, desde que as iniciativas sejam executadas com clareza de metas e ritmo acelerado.

Energia e data centers: o elo entre IA e infraestrutura

A expansão de modelos de linguagem de grande porte pressiona a infraestrutura global. Uma única consulta ao ChatGPT consome em média dez vezes mais energia do que uma busca tradicional no Google, o que exige um complexo de data centers de escala inédita. Nesse cenário, a matriz elétrica brasileira — predominantemente limpa e abundante — torna-se trunfo para atrair investimentos. Projeções do governo indicam potencial de até R$ 2 tri em aportes no setor em uma década. Um exemplo é o Scala AI City, no Rio Grande do Sul, projeto de R$ 3 bi considerado um dos maiores empreendimentos de infraestrutura digital da América Latina.

Fusão nuclear: aposta britânica de longo prazo

O itinerário incluiu visita à United Kingdom Atomic Energy Authority (UKAEA), responsável pelo principal reator experimental de fusão nuclear do mundo. Diferente da fissão usada em usinas como Angra, a fusão promete ser fonte de energia segura, limpa e praticamente ilimitada. O governo britânico trata o tema como projeto estratégico de longo prazo, capaz de gerar valor em setores adjacentes, criar uma cadeia de suprimentos de alto conteúdo tecnológico e estimular novos mercados.

Exemplo disso é uma fábrica de robótica instalada na própria UKAEA: inicialmente criada para manutenção de reatores, hoje exporta soluções para outras indústrias. Também desponta um ecossistema de capital de risco especializado, representado pelo fundo EastX, focado em startups relacionadas à fusão.

A concorrência internacional é intensa. A China opera o maior fundo público dedicado à fusão e forma, anualmente, número de doutores na área dez vezes superior ao dos Estados Unidos.

Computação quântica: contagem regressiva para 2029

Na sede da IBM em Londres, o grupo teve contato com um computador quântico e discutiu aplicações capazes de revolucionar mercados. A expectativa é alcançar o quantum advantage em 2029, estágio em que máquinas quânticas superarão qualquer supercomputador clássico em tarefas específicas. A mudança deve impactar serviços financeiros, energia, seguros, telecomunicações, saúde e até os setores automotivo e aeroespacial.

Com poder para resolver problemas probabilísticos e combinatórios inatingíveis por computadores tradicionais, a computação quântica poderá, por exemplo, eliminar riscos de fraude bancária ou otimizar rotas de logística complexa. Além disso, deve reduzir de meses para horas o tempo de treinamento de grandes modelos de IA, elevando a tecnologia a um novo patamar.

Mais uma vez, a China lidera os investimentos, as publicações e a formação de especialistas na área, sinalizando corrida global pelo domínio da próxima fronteira computacional.

Oportunidades e urgência para o Brasil

O panorama observado em Londres indica um ciclo tecnológico que combina ciência avançada, visão estratégica e capital — financeiro e intelectual. O Brasil possui vantagens relevantes, como matriz energética renovável e alta adoção de tecnologias digitais, porém precisa agir com celeridade para transformar criatividade em valor econômico. A integração a cadeias globais de IA, fusão nuclear e computação quântica requer políticas de longo prazo, investimento em pesquisa e formação de talentos capazes de competir nesse novo estágio da economia digital.

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