Brasil reivindica elevação submersa rica em terras raras e mira liderança eletrônica

Brasil, China e Índia concentram hoje parte expressiva das reservas globais de terras raras, grupo de 17 elementos fundamentais para ímãs, LEDs, turbinas e componentes eletrônicos. Estudos do United States Geological Service (USGS) estimam que o território brasileiro possua cerca de 21 milhões de toneladas desses minérios, atrás apenas da China, com 44 milhões.
Terras raras: aplicações e desafios de extração
Neodímio, lantânio e outros metais do grupo apresentam alta condutividade, magnetismo acima da média e boa absorção de luz, características que sustentam setores como mobilidade elétrica, geração eólica e fabricação de semicondutores. A extração, contudo, exige processos de separação caros e pouco sustentáveis, gerando resíduos tóxicos e risco de contaminação de água e solo.
Segundo o professor Luigi Jovane, do Instituto Oceanográfico da USP, obter 1 kg de telúrio com 99 % de pureza pode exigir a remoção de “uma montanha” de rocha. A produção em larga escala demanda conhecimento técnico, investimento elevado e gestão de impactos ambientais.
Elevação do Rio Grande: potencial econômico submerso
Desde 2018, o Brasil pleiteia na ONU a soberania sobre a Elevação do Rio Grande, formação rochosa do tamanho da Espanha situada a cerca de 1 200 km da costa atlântica. Amostras coletadas por equipes da USP indicam presença significativa de cobalto, níquel, titânio, telúrio e várias terras raras, reforçando o interesse estratégico do governo.
O geólogo Muhammad Bin Hassan, pesquisador da USP, afirma que a região poderia reduzir a dependência de importações e posicionar o país como fornecedor global de minerais críticos, gerando empregos qualificados e favorecendo a transição para energias renováveis.

Infraestrutura limita avanço brasileiro
Apesar das reservas, o Brasil ainda não domina o refino em escala industrial. A principal operação ativa, da empresa Serra Verde em Minaçu (GO), exporta quase toda a produção para a China, que concentra 60 % da mineração e 90 % da transformação global de terras raras.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a “soberania nacional” sobre esses recursos e anunciou a criação de uma comissão para ampliar pesquisas e parcerias. Especialistas alertam, porém, que viabilizar a cadeia completa — da extração ao componente final — exigirá planejamento de longo prazo, altos investimentos e rigor ambiental.