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America busca anular leilão da “Mansão do Diabo” após compra por R$ 1,9 milhão

O America Football Club tenta suspender judicialmente a venda do imóvel conhecido como “Mansão do Diabo”, localizado no quilômetro 18 da Rodovia Rio-Petrópolis, em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro. A propriedade, que serviu por décadas como centro de treinamento e concentração de atletas das categorias de base, foi arrematada em 8 de maio por R$ 1,9 milhão pela empresa Grande R.B Empreendimentos, especializada em compra e venda de imóveis, e já teve a posse transferida ao novo proprietário na semana passada.

O leilão ocorreu em razão de dívida do clube com a União, estimada em quase R$ 1 milhão, além de mais de dez pedidos de penhora registrados em processos de execução. Avaliado inicialmente em R$ 5 milhões, o casarão de estilo colonial constava nos autos como estando em ruínas, o que contribuiu para a diferença entre o valor de avaliação e o preço final pago pela compradora.

Inaugurado na década de 1970 como local de concentração da equipe profissional, o imóvel foi adquirido em 1963, durante a gestão do então presidente Wolney Braune. Atualmente, o espaço era usado majoritariamente para formação de jovens atletas e era divulgado pelo America como Centro de Treinamentos e Lazer. A diretoria buscava parceiros que ajudassem na revitalização da estrutura, considerada estratégica para a política de revelação de jogadores.

Em janeiro de 2024, o clube contratou um escritório de advocacia para conduzir a defesa no processo de execução fiscal. A peça protocolada sustenta que o America não foi intimado de forma adequada sobre a designação do leiloeiro e as datas da hasta pública, o que, segundo a agremiação, impediu o exercício do direito de defesa. A diretoria afirma que há nulidades de ordem pública no procedimento e indica que pretende levar a disputa às instâncias superiores caso seja necessário.

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região analisa um agravo de instrumento interposto pelo America. No início de junho, entretanto, o desembargador federal Alberto Nogueira Junior rejeitou pedido de efeito suspensivo. Na decisão, o magistrado registrou que o clube foi regularmente intimado em 08/04/2025, data em que se nomeou o leiloeiro judicial e foram fixadas as datas das hastas. Segundo o despacho, o prazo para impugnação ao leilão encerrou-se em 21 de maio e a manifestação apresentada em 2 de junho foi considerada intempestiva.

Com a arrematação mantida em primeiro momento, a imissão de posse foi expedida e cumprida na sexta-feira da semana passada, garantindo à Grande R.B Empreendimentos o direito de administrar o terreno. A empresa efetuou o pagamento integral de R$ 1,9 milhão e já formalizou o registro da propriedade.

Treinada pelo ex-atacante Romário, a equipe rubra disputa atualmente a Série A2 do Campeonato Carioca. Pela segunda temporada consecutiva, o America encerrou a fase classificatória fora da zona que garante acesso à elite estadual. A diretoria sustenta que a eventual perda definitiva da sede comprometerá o principal projeto de recuperação financeira do clube, baseado justamente na formação de atletas e na posterior venda de direitos econômicos.

Em manifestação protocolada em 1º de junho, quase um mês após a realização do leilão, os advogados do America argumentaram que a desocupação inviabilizaria as atividades de base e prejudicaria o plano de reerguimento institucional. O documento ressalta que o terreno reúne campos de treinamento, alojamentos e estrutura de suporte utilizados diariamente por jogadores e comissão técnica.

O processo segue em tramitação, ainda sem julgamento de mérito do agravo. Caso o pedido de anulação seja acolhido, o ato de arrematação poderá ser declarado nulo e a posse retornaria ao America, que teria de discutir a dívida em nova fase judicial. Se o recurso for definitivo rejeitado, o clube precisará buscar alternativas para instalar suas categorias de base em outro local.

A “Mansão do Diabo” recebe esse apelido desde os anos 1970, quando atletas relatavam experiências de supostos eventos sobrenaturais no casarão, então rodeado por área de mata pouco habitada. Ao longo das décadas, a propriedade tornou-se símbolo da história rubra, especialmente nos sete títulos cariocas conquistados pelo America, o último em 1960.

Enquanto aguarda decisão da Justiça, o clube mantém a rotina de treinamentos no local, ainda que sob posse formal da empresa arrematante. Não há, até o momento, ordem de desocupação imediata, mas a permanência depende do desfecho judicial. A diretoria afirma que seguirá utilizando todos os recursos cabíveis para preservar o patrimônio.

O caso ilustra as dificuldades financeiras enfrentadas por equipes tradicionais do futebol brasileiro fora do eixo da elite, que frequentemente recorrem à venda de ativos para saldar dívidas. No cenário do Rio de Janeiro, onde Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco concentram a maior parte das receitas publicitárias e de transmissão, clubes de menor orçamento como o America tentam equilibrar as contas com estratégias de base e parcerias pontuais.

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