Banco Central impulsionou sua credibilidade ao elevar a Selic de 10,50% para 15% em poucos meses, avalia a economista Ana Paula Vescovi, do Santander Brasil. O choque de 450 pontos-base criou um dos maiores diferenciais de juros do mundo e ajudou a conter a escalada inflacionária.
Na análise publicada um ano após a posse da nova diretoria, Vescovi destaca que a autoridade monetária conseguiu atravessar “testes duros”, como a frustração fiscal de novembro de 2024, o impacto cambial do IOF e a imposição de tarifas pelos Estados Unidos.
Banco Central reforça credibilidade com alta da Selic
Segundo a ex-secretária do Tesouro, a firmeza do Comitê de Política Monetária (Copom) foi decisiva. A comunicação tornou-se mais dependente de dados correntes, abandonando sinais prévios de juros (“forward guidance”) e garantindo consenso interno. O resultado imediato foi a apreciação do real, beneficiada também pela desvalorização de 10% do dólar global desde janeiro.
Inflação converge lentamente
O cenário, porém, ainda é desafiador. A mediana do Boletim Focus projeta inflação de 4,8% em 2025, caindo para 4,2% em meados de 2026 e apenas 3,5% em 2029, acima da meta de 3%. No mercado de juros, a inflação implícita para 2029 supera 5,5%. “O avanço nas expectativas é real, mas insuficiente para assegurar controle estrutural de preços”, alerta Vescovi.
Ela lembra que os EUA enfrentam dilema semelhante: inflação de cinco anos em torno de 2,5%, ainda acima da meta de 2%, enquanto o Federal Reserve revê seu regime de metas. Por aqui, o risco fiscal permanece o principal fator de incerteza, sobretudo às vésperas das eleições de 2026, que devem polarizar o debate entre ajuste e expansão de gastos.
Cautela para o próximo ciclo
Para Vescovi, o desafio do Banco Central será calibrar o início do afrouxamento monetário sem perder o capital de confiança acumulado. Qualquer movimento precipitado pode minar a credibilidade construída “com perseverança, disciplina e consistência”.

Dados do Banco Central mostram que o diferencial de juros reais entre Brasil e Estados Unidos supera 800 pontos-base, fator que tem atraído fluxo de capitais e sustentado a moeda brasileira, apesar das revisões de crescimento global.
Concluindo, a economista ressalta que “credibilidade custa caro” e que o próximo ano será decisivo para provar a solidez da instituição em meio a juros longos elevados e endividamento recorde de governos mundo afora.
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Crédito da imagem: Pedro Ladeira – 21.jun.24/Folhapress