Brasília – A saída formal de Progressistas (PP) e União Brasil da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elevou a preocupação no Palácio do Planalto de que a pauta econômica e social do governo fique travada até 2026. O temor principal é que, ao se alinhar em torno da possível candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Planalto, o centrão se some ao bolsonarismo e dificulte votações relevantes, como a correção da tabela do Imposto de Renda para isentar quem recebe até R$ 5.000.
PP e União Brasil determinaram nesta semana que seus quadros com cargos na Esplanada deixem os postos até 30 de setembro, sob pena de expulsão partidária. Com a debandada, a base oficial do governo na Câmara deve encolher para 259 deputados, apenas dois acima da maioria simples exigida para aprovar projetos de lei.
Derrotas e sinal de alerta
A primeira consequência apareceu no Senado. Parlamentares das duas legendas votaram contra a proposta de emenda à Constituição que altera o pagamento de precatórios e autoriza despesa extra de R$ 12,4 bilhões em 2026. O texto passou com a margem mínima de votos, reforçando o alerta dentro do Executivo.
No radar do Planalto também está a ofensiva de deputados pelo perdão aos condenados pelos atos de 8 de Janeiro. Auxiliares de Lula avaliam que o avanço da anistia pode ocupar as sessões do plenário, deixando a isenção do IR em segundo plano. A proposta do Imposto de Renda foi aprovada em comissão especial em julho, mas está parada desde então.
Estratégia governista
Integrantes da articulação política pretendem pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para pautar o IR antes da anistia. O argumento é que a aprovação de uma medida popular beneficiaria a imagem da Casa e do próprio Motta. Nos bastidores, porém, governistas admitem que o deputado sofre forte pressão para priorizar o perdão aos réus do 8 de Janeiro.
Ao mesmo tempo, o Planalto prepara discurso voltado à opinião pública: apresentar a obstrução do centrão como defesa de privilégios e associar aliados de Tarcísio ao bloqueio de benefícios fiscais à população. A ideia é reforçar que, ao apoiar a anistia, esse grupo colocaria interesses políticos acima das demandas sociais.
Cronograma eleitoral
Líderes de PP e União Brasil desejam resolver o tema da anistia ainda em 2025, a fim de afastar assuntos controversos da corrida presidencial de 2026. A avaliação é que eventuais sanções econômicas externas ou desgastes políticos decorrentes do perdão não podem respingar no candidato da direita.

O embate deve se tornar um divisor de águas, segundo o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ). Ele afirmou que deputados que apoiarem a urgência da anistia “estarão optando pela saída do governo”.
Com o centrão reposicionado e as eleições no horizonte, o Palácio do Planalto trabalha para não ver sua agenda travar nos próximos meses.
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Com informações de Folha de S.Paulo