São Paulo – Gabinetes de deputados aliados do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na Assembleia Legislativa de São Paulo acolheram parentes e colaboradores próximos do prefeito afastado de São Bernardo do Campo, Marcelo Lima (Podemos), investigado pela Polícia Federal por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro no município.
Levantamento da PF indica que, em pelo menos duas contratações, o próprio Lima intermediou os acertos. Entre os nomeados estão a esposa e a filha do prefeito, além de dois investigados apontados como operadores do esquema.
Filha de Lima nomeada no dia da operação
No dia 14 de agosto, data da deflagração da operação policial que afastou o prefeito, Larissa Souza, filha mais velha de Lima, foi designada assessora no gabinete da deputada estadual Carla Morando (PSDB). Com salário bruto de R$ 10,2 mil, Larissa já atuava na liderança tucana desde abril de 2019 e foi transferida de setor após discussões internas sobre sua permanência.
A deputada afirma que a contratação atende às normas legais e que não há ligação da servidora com a investigação.
Outros investigados em gabinetes aliados
Além de Larissa, constam nos registros da Alesp:
- Rosângela Lima, esposa do prefeito, assistente parlamentar do deputado Rodrigo Moraes (PL) entre setembro de 2022 e novembro de 2024, também com salário de R$ 10,2 mil;
- Paulo Iran, apontado pela PF como principal operador dos desvios, assessor de Moraes até ser exonerado em 15 de agosto, um dia após a operação. Recebia R$ 8,4 mil;
- Roque Araújo Neto, suspeito de receber R$ 390 mil em propina, ex-assistente no gabinete de Carla Morando, exonerado no dia seguinte à ação policial.
Mensagens obtidas pela PF revelam que Lima pediu a um interlocutor identificado como “Frajola” — o ex-assessor da Alesp José Roberto Venancio de Souza, hoje vereador em Ilha Comprida (PP) — que orientasse Iran e Rosângela a procurarem o gabinete de Moraes para efetivar as nomeações, em 2 de setembro de 2022. Na mesma data, ambos foram contratados.
Procurado, Moraes declarou, por meio de nota, que as admissões seguiram os trâmites administrativos e que os dois atuavam em atividades externas no ABC. A exoneração de Iran, diz o deputado, ocorreu imediatamente após tomar conhecimento das suspeitas. Sobre Rosângela, o parlamentar ressalta que o vínculo foi encerrado meses antes de as investigações virem a público.
PF encontrou R$ 14 milhões em dinheiro vivo
O inquérito teve início em julho de 2025, quando agentes localizaram R$ 14 milhões em espécie na residência de Paulo Iran. Segundo a PF, o grupo cobrava propina de empresas que mantinham contratos com a prefeitura e quitava despesas pessoais do prefeito e familiares, incluindo mensalidades de faculdade da filha caçula de Lima.

Ainda de acordo com a investigação, Iran utilizava a conta bancária da esposa, Karina Luz de Queiroz, para realizar pagamentos relacionados ao esquema. Karina foi assessora da Secretaria de Serviços Urbanos de São Bernardo entre julho de 2021 e dezembro de 2024, período em que o próprio Marcelo Lima chefiou a pasta. O salário dela era de R$ 8,4 mil.
Posicionamentos
O governo estadual informou, em nota, que não interfere nas nomeações de funcionários de gabinetes parlamentares. Já a assessoria de Carla Morando argumenta que todas as contratações ocorreram dentro da legalidade e que eventuais irregularidades serão apuradas. A defesa de Roque Araújo Neto nega envolvimento do ex-servidor e atribui a ele um caso de homonímia no processo.
Marcelo Lima, Rosângela Lima e Paulo Iran não se pronunciaram.
As investigações da Polícia Federal prosseguem para mapear a participação de servidores e a suposta utilização de cargos públicos para encobrir o esquema de desvio de recursos em São Bernardo do Campo.
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Com informações de Folha de S.Paulo