Seis municípios brasileiros mantêm nomes que reverenciam presidentes da ditadura militar

São Paulo – Medicilândia (PA) e outras cinco cidades do país continuam a exibir, no próprio nome, homenagens a presidentes que comandaram o Brasil durante o regime militar (1964-1985). A lista inclui dois municípios batizados em honra a Emílio Garrastazu Médici, dois ligados a Humberto Castello Branco e um que faz referência – direta ou indireta – a João Baptista Figueiredo.
Quem são as cidades
Médici no mapa. No Norte, Medicilândia ganhou esse título em plena década de 1970, quando ainda era uma agrovila erguida às margens da Transamazônica. Rondônia e Maranhão também registram o nome Presidente Médici; o município maranhense surgiu em 1994, já no período democrático.
Castello Branco duplicado. No Sul, o primeiro governante do regime inspira Presidente Castello Branco (SC) e Presidente Castelo Branco (PR). O povoado catarinense virou cidade em 1963 e adotou o novo nome dois anos depois; a localidade paranaense foi criada em 1964 e instalada em 1965.
Figueiredo em debate. A 125,5 km de Manaus, Presidente Figueiredo (AM) leva o sobrenome do último chefe militar. A prefeitura associa o batismo a João Baptista de Oliveira Figueiredo, mas a Câmara Municipal afirma que a intenção original foi homenagear João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha, presidente da província do Amazonas no Império.
Legado da Transamazônica
A rodovia Transamazônica (BR-230), inaugurada por Médici em 1972 e com 4.260 km de extensão, foi o eixo de colonização que originou Medicilândia. O governo distribuía lotes e um salário mínimo por seis meses a famílias levadas principalmente do Nordeste e do Sul, segundo o historiador César Augusto Martins de Souza, da UFPA.
O técnico agrícola Márcio Oliveira, morador de Medicilândia desde 1981, lembra que o projeto determinava o plantio de cana-de-açúcar para abastecer uma usina que jamais decolou. “Faltava estrada, havia malária, e o escoamento era quase impossível”, relata.
Homenagens persistem
Levantamento feito pela Folha com dados do Censo 2022 do IBGE identificou 2.039 logradouros – ruas, praças, pontes e avenidas – que mantêm o nome de 377 pessoas listadas pela Comissão Nacional da Verdade como responsáveis por violações de direitos humanos, além de locais que citam “31 de março”, data do golpe de 1964.

Entre as cidades com maior número dessas referências, a única que não é capital é Altamira (PA), ponto inicial da Transamazônica.
Apesar de tentativas pontuais registradas nos anos 1990, não há confirmação de processos formais para alterar o nome de Medicilândia. Outras prefeituras mencionadas não responderam se pretendem promover mudanças.
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Com informações de Folha de S.Paulo