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País mantém mais de 2 mil logradouros que homenageiam figuras da ditadura militar

Mais de dez anos depois da divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o Brasil ainda possui ao menos 2.039 ruas, avenidas e praças batizadas em homenagem a militares apontados pelo órgão como responsáveis por tortura, execução e ocultação de cadáveres durante a ditadura militar (1964-1985). O total foi identificado em cruzamento de dados do Censo 2022 do IBGE com a lista de 377 nomes citados pela CNV.

O número pode ser maior, já que o levantamento desconsiderou possíveis homônimos. Endereços que mencionam “31 de março”, data do golpe de 1964, também foram incluídos. Foram registradas 363 ocorrências relacionadas à data.

Distribuição pelo país

Rio de Janeiro e São Paulo lideram com 15 e 14 logradouros, respectivamente. Na sequência aparecem Manaus (13) e Salvador (12). Altamira (PA) é a única cidade não capital entre as cinco primeiras, com 11 vias, muitas próximas à rodovia Transamazônica, projeto concebido sob o regime militar.

No recorte regional, o Nordeste apresenta 705 endereços, seguido pelo Sudeste (552). O estado de São Paulo concentra 243 ocorrências, enquanto a Bahia soma 227.

Figuras mais lembradas

Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro presidente do período, é citado em 729 logradouros. Arthur da Costa e Silva aparece em 310, e Emílio Garrastazú Médici, em 279. O marechal-do-ar Eduardo Gomes, patrono da Força Aérea Brasileira e ministro da Aeronáutica durante o regime, dá nome a 104 endereços.

Cidades que levam nomes de presidentes do regime

Além das ruas, municípios inteiros fazem referência aos governantes do período, como Medicilândia (PA), Presidente Médici (RO e MA), Presidente Castello Branco (PR e SC) e Presidente Figueiredo (AM). Segundo o advogado Pedro Dallari, ex-coordenador da CNV, a presença militar na Amazônia durante a ditadura explica a concentração de homenagens na região.

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Avanços e resistência

A CNV recomendou em 2014 a troca de nomes como medida de reparação. Desde então, poucas mudanças ocorreram. Em maio deste ano, a Justiça paulista determinou que a prefeitura da capital alterasse 11 logradouros; a gestão municipal recorreu, e o processo segue em segunda instância.

Projetos de lei tramitam em câmaras municipais de São Paulo e Rio de Janeiro, mas sem previsão de votação. Salvador arquivou proposta que proibiria homenagens a torturadores e escravocratas, e Manaus aguarda parecer da Câmara após recomendação do Ministério Público.

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Com informações de Folha de S.Paulo

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