Da campanha de Brizola ao inquérito do STF: a trajetória política de Silas Malafaia

São Paulo – O pastor Silas Malafaia, uma das vozes mais influentes do bolsonarismo, soma mais de três décadas de atuação nos bastidores eleitorais. A carreira política começou em 1989, quando o então jovem televangelista integrou o comitê evangélico de Leonel Brizola (PDT) e, após a eliminação do trabalhista no primeiro turno, apoiou Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Hoje, Malafaia é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) pela suposta participação em articulações antidemocráticas ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Celular apreendido e restrição de saída do país
Na quarta-feira (20), a Polícia Federal apreendeu o telefone do pastor no aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro. A ordem partiu do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e aliados. Além da busca e apreensão, Malafaia está impedido de deixar o Brasil e de manter contato com outros investigados.
Do “Lula lá” ao rompimento com o PT
Nos anos 1990, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo destacou-se por defender o petista contra boatos de que Lula fecharia templos evangélicos. Ele repetiu o apoio em 2002, chegando a aparecer em propaganda eleitoral que atacava José Serra (PSDB). No primeiro turno daquele pleito, contudo, sua preferência era Anthony Garotinho (PSB), ex-PT que se apresentava como o candidato “mais à esquerda”.
O rompimento com o PT ocorreu antes do fim do segundo mandato de Lula. Malafaia sustenta ter se decepcionado ao concluir que o partido não se afastaria de suas “ideologias”.
Aproximação com Jair Bolsonaro
Temas conservadores, como o projeto de lei que criminalizava a homofobia, aproximaram Malafaia de Jair Bolsonaro, então deputado do chamado baixo clero. O pastor celebrou, em 2013, o casamento de Bolsonaro com Michelle Bolsonaro, ocasião em que o parlamentar revelou o desejo de disputar a Presidência.
A partir de 2018, Malafaia tornou-se um dos primeiros líderes evangélicos de grande projeção a declarar apoio público ao capitão reformado. Durante o governo, tinha livre acesso ao Palácio do Planalto e financiou trios elétricos para discursos presidenciais em atos de 7 de Setembro.
Conflito com Alexandre de Moraes
O pastor se notabilizou por ataques frequentes ao ministro Alexandre de Moraes, a quem chama de “ditador da toga”. Em vídeos nas redes, afirmou que o magistrado “mexeu com a pessoa errada” e disse não temer prisão. Para interlocutores do meio evangélico, a estratégia de confronto pode levá-lo a um “abraço de afogados” com Bolsonaro.

Campanhas contra aborto e defesa da “família”
Em 2010, Malafaia espalhou centenas de outdoors no Rio de Janeiro com o slogan “Em favor da família e da preservação da espécie humana”. No mesmo ano, relatou ter conversado 15 minutos por telefone com a candidata Dilma Rousseff (PT) para avisar que não a apoiaria por considerá-la favorável ao aborto.
Vídeo ressuscitado nas redes
Recentemente, circulou nas redes um vídeo de mais de duas décadas em que o pastor argumenta contra a participação direta da igreja na política, justificando que “Jesus não tem título de eleitor no Brasil”.
Risco de isolamento
Líderes evangélicos que apoiaram Bolsonaro em 2018 e 2022 avaliam, nos bastidores, reduzir o volume da defesa ao ex-presidente para evitar atritos com o STF. Malafaia, por sua vez, afirma que “covardes” recuam, enquanto ele continuará na linha de frente.
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Com informações de Folha de S.Paulo