BNDES retoma investimentos acionários com compra de 19,9% do Grupo Santa Clara por R$ 114 milhões

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltou a adquirir participações acionárias em empresas brasileiras. O conselho do banco aprovou um aporte de R$ 114 milhões na fabricante de fertilizantes especiais e bioinsumos Grupo Santa Clara, sediada em Ribeirão Preto (SP). Com a operação, realizada por meio da BNDESPar, o braço de participações societárias da instituição, o banco passa a deter 19,9% do capital da companhia.
O investimento marca a primeira compra direta de ações desde que o BNDES anunciou, em junho, a retomada desse tipo de atuação. Na ocasião, a instituição divulgou que a BNDESPar destinará até R$ 10 bilhões, até o final de 2025, à aquisição de participações em empresas, de forma direta ou via fundos de investimento. O plano reverte o movimento observado desde 2016, período em que o banco priorizou a venda de ativos.
O Grupo Santa Clara é classificado pelo banco como empresa de médio porte e emprega aproximadamente 300 pessoas. A holding controla as marcas Santa Clara Agrociência, Hydromol, Linax e Inflora Biociência, voltadas ao desenvolvimento de soluções que combinam fertilizantes especiais, bioinsumos e tecnologias para aumentar a produtividade agrícola. De acordo com o BNDES, o aporte minoritário tem o objetivo de reforçar a estrutura de capital da companhia, permitindo a execução de um plano de negócios que inclui investimentos em inovação, expansão da capacidade produtiva e ampliação de mercado.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou em nota que a participação na Santa Clara se insere na estratégia de promover a chamada economia verde, a transição ecológica e a descarbonização da produção. Segundo o executivo, operações de capital deste tipo contribuem para acelerar investimentos que gerem emprego e estimulem tecnologias de menor impacto ambiental.
A BNDESPar registrou lucro líquido de R$ 25,3 bilhões em 2024, desempenho que, segundo o banco, confere fôlego para o novo ciclo de aportes. Apesar dos ganhos, a carteira de participações havia sido reduzida substancialmente nos últimos anos. Desde 2016, a subsidiária alienou papéis de diversas companhias, incluindo a saída total da mineradora Vale e uma oferta de pouco mais de R$ 20 bilhões em ações da Petrobras. Essas vendas foram resultado do redirecionamento estratégico implementado nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, que priorizaram a desalavancagem do banco e a diminuição da exposição acionária.
Antes desse período, a política de participação em capital de empresas esteve associada ao programa informalmente chamado de “campeões nacionais”, adotado nos primeiros governos do Partido dos Trabalhadores (PT). A estratégia buscava fortalecer grandes grupos privados para que competissem internacionalmente, mas enfrentou críticas em relação à seletividade dos beneficiados e ao risco assumido pelo banco público. A partir de 2015, essas práticas foram gradualmente revistas, com redução de aportes e ampliação das desinversões.
Com a mudança de orientação anunciada em 2025, o BNDES retoma a condição de investidor minoritário ativo, mas agora com foco declarado em inovação e sustentabilidade. A instituição destaca que, ao optar por participações sem o controle das companhias, busca alavancar projetos de expansão que não teriam a mesma escala apenas com financiamentos tradicionais. Nesse formato, o banco também pretende exercer influência em temas como governança, transparência e adoção de práticas ambientais.
No caso específico da Santa Clara, o BNDES avalia que o mercado de fertilizantes especiais e bioinsumos apresenta potencial significativo de crescimento, impulsionado pela demanda por soluções que aumentem a produtividade agrícola ao mesmo tempo em que reduzam a emissão de gases de efeito estufa. O investimento será realizado por meio de subscrição de novas ações, injetando recursos diretamente no caixa da empresa. Não haverá, portanto, aquisição de participação de acionistas atuais.
A companhia beneficiada prevê direcionar parte relevante dos recursos ao desenvolvimento de novos produtos, modernização industrial e ampliação da presença em regiões agrícolas estratégicas. Outra parcela do capital será usada para fortalecer o balanço, permitindo a contratação de financiamento adicional em condições mais favoráveis.
O aporte na Santa Clara inaugura o portfólio de investimentos da BNDESPar dentro da reserva de R$ 10 bilhões anunciada para 2025. Segundo fontes da instituição, outros setores prioritários incluem energias renováveis, tecnologia da informação, saúde e economia circular. As operações poderão ocorrer tanto por subscrição direta de ações quanto por meio de veículos gestores de participações, a depender do perfil de cada empresa.
Com a compra de 19,9% do Grupo Santa Clara, o BNDES sinaliza ao mercado que voltará a utilizar instrumentos de capital para fomentar áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento econômico e ambiental do país, mantendo, contudo, participação minoritária e foco em empresas com potencial de crescimento sustentável.