Hugo Motta supera bloqueio e retoma comando da Câmara em seis minutos

Brasília — O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), enfrentou na noite de quarta-feira (6) o episódio mais conturbado dos seus primeiros seis meses à frente da Casa. Em pouco mais de seis minutos, o parlamentar deixou o gabinete, venceu barreiras físicas e políticas e voltou à cadeira de comando sob forte tensão no plenário.
Barreiras, empurra-empurra e suspeita de arma
Motta iniciou o deslocamento por volta das 22h, contrariando acordo fechado pelo ex-presidente Arthur Lira (PP-AL) com a oposição, que previa o retorno somente após a dispersão de deputados alinhados a Jair Bolsonaro. Na escadaria, foi impedido pelo deputado Zé Trovão (PL-SC), orientado pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ). O objetivo, segundo o partido, era evitar o uso de força policial para retirar manifestantes.
No trajeto havia rumores de que um parlamentar estivesse armado; a informação não foi confirmada pela assessoria de Motta. Já no púlpito, os deputados Marcel van Hattem (Novo-RS) e Marcos Pollon (PL-MS) permaneceram sentados na mesa diretora, impedindo o presidente de se sentar. O tumulto incluiu empurra-empurra de cerca de 70 pessoas, a presença de um bebê levado pela deputada Júlia Zanatta (PL-SC) e cânticos religiosos entoados por Pastor Sargento Isidório (Avante-BA).
Recuo ameaçado e retomada do comando
Diante da resistência, Motta cogitou recuar ao gabinete, ordem que deixou aliados e oposicionistas apreensivos com possível agravamento das sanções aos envolvidos. Antes de voltar às escadas, foi convencido pelo deputado Hélio Lopes (PL-RJ) e por líderes partidários como Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Elmar Nascimento (União-BA) a insistir na retomada.

Com o plenário ainda agitado, van Hattem levantou-se e, após breve discussão, cedeu espaço. Aos empurrões, aliados conduziram Motta até a cadeira que estava bloqueada havia 30 horas. Já sentado, o presidente afirmou que a “respeitabilidade da Mesa é inegociável” e que o ocorrido “não condiz com a história da Casa”.
Impacto político
Parlamentares avaliam que a hesitação inicial fragilizou a liderança de Motta, o mais jovem a ocupar a presidência da Câmara. Ele anunciou a análise das imagens para decidir eventuais punições aos deputados envolvidos no motim, motivado pela insatisfação com a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro.