Unipar capta R$ 900 milhões em debêntures, alonga dívida e reduz custo financeiro

A Unipar concluiu a emissão de R$ 900 milhões em debêntures, a maior captação de sua história e com prazo médio recorde de 7,5 anos. O movimento reforça a estratégia da companhia de alongar o perfil de endividamento, reduzir a despesa financeira e abrir espaço no balanço para futuras aquisições.
Líder nacional na produção de cloro e segunda maior fabricante de PVC da América Latina, a empresa aproveitou a forte demanda por títulos corporativos no mercado doméstico para estruturar uma operação que combina troca de dívidas antigas, diminuição de spreads e flexibilização de covenants. O interesse dos investidores resultou em livros de ofertas 1,77 vez superiores ao volume disponibilizado nas séries destinadas ao mercado.
Do total captado, R$ 550 milhões serão usados para o resgate de debêntures com custo mais elevado e cláusulas mais restritivas. Entre as mudanças, o limite de alavancagem, medido pela relação dívida líquida/EBITDA, passou de até 2,5 vezes para até 3 vezes. Mesmo com a folga adicional, o indicador hoje está em 0,88 vez, apontando margem para novas operações sem pressionar o nível de endividamento.
Segundo o diretor financeiro, Alexandre Jerussalmy, a flexibilidade extra serve para posicionar a Unipar em eventuais oportunidades de expansão, dentro ou fora do Brasil, incluindo possíveis diversificações para além dos segmentos de cloro e PVC. No momento, não há negociações específicas em andamento, mas a empresa quer estar preparada para movimentos de mercado.
A emissão foi dividida em três séries. A primeira, de R$ 165 milhões e vencimento em sete anos, saiu a CDI + 1%. A segunda, de R$ 300 milhões, vence em dez anos com custo de CDI + 1,35%. Essas duas parcelas foram ofertadas ao mercado e tiveram demanda superior à oferta. A terceira série, voltada a investidores que já detinham debêntures da companhia, totalizou R$ 435 milhões e foi precificada a CDI + 1,15%.
Os spreads representam queda significativa em relação a operações anteriores. Em setembro de 2024, emissão de R$ 750 milhões com prazos idênticos foi precificada a CDI + 1,20% (sete anos) e CDI + 1,65% (dez anos). Em outubro de 2023, o prêmio para sete anos havia sido de 2,05%. A compressão ocorreu em meio a um cenário desafiador para o setor petroquímico, marcado por preços baixos e, no caso da Unipar, impacto adicional da exposição à economia argentina.
Mesmo em um ciclo de queda de preços de PVC e soda cáustica, além de enchentes que afetaram operações na Argentina, a companhia manteve geração de caixa consistente, fator que reforçou a confiança dos investidores. Com a nova emissão, o prazo médio da dívida subiu de 60 para 75 meses e mais de 90% dos compromissos passam a vencer apenas após 2029. Já o custo médio caiu de CDI + 0,98% para CDI + 0,88%; no segundo trimestre de 2024, o custo era CDI + 1,56%.
O processo de gerenciamento de passivos ocorre paralelamente ao maior ciclo de investimentos da história da Unipar. No complexo de Cubatão (SP), estão sendo aplicados US$ 200 milhões em modernização tecnológica. Em Camaçari (BA), a companhia ergue uma nova planta de eletrólise, que consumirá R$ 234 milhões. Em novembro passado, a empresa já havia assegurado quase R$ 700 milhões em crédito junto ao BNDES em condições de financiamento verde, reduzindo ainda mais o custo de capital.
Analistas avaliam que uma elevação na tarifa de importação para resinas pode adicionar até US$ 400 milhões ao EBITDA do setor, fator considerado positivo para a companhia caso se concretize. Enquanto isso, a gestão de custos vem ajudando a preservar margens, apesar das adversidades no ambiente de preços.
A operação recém-concluída teve coordenação de Itaú BBA e BTG Pactual. Com balanço pouco alavancado, prazos alongados e custos menores, a Unipar reforça sua posição para enfrentar o ciclo adverso e, ao mesmo tempo, sustentar planos de crescimento orgânico e inorgânico nos próximos anos.