Auxiliares de Jair Bolsonaro tentaram mobilizar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para apresentar uma proposta de “trégua” ao Supremo Tribunal Federal (STF) e evitar a prisão do ex-presidente. A iniciativa foi interrompida nesta segunda-feira (4) quando o ministro Alexandre de Moraes determinou prisão domiciliar a Bolsonaro por descumprir medidas cautelares.
Proposta envolvia inelegibilidade e anistia
O plano previa que o bolsonarismo deixaria de contestar a inelegibilidade de Bolsonaro, válida até 2030, em troca de o STF não interferir numa possível votação do Congresso sobre projeto de anistia para os investigados pelo ataque de 8 de janeiro de 2023. A estratégia buscava afastar o foco da eleição de 2026 e, segundo aliados, reduzir tensões que repercutiram em sanções comerciais recentes, como a sobretaxa de 50% aplicada pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
Resistência de Tarcísio
Considerado interlocutor com boa receptividade na Corte, Tarcísio relutou em assumir a missão e condicionou qualquer movimento a uma autorização explícita de Bolsonaro, dos filhos e de correligionários. O governador lembrou que uma tentativa anterior de interceder junto ao STF — quando buscou liberar o passaporte de Bolsonaro para viagem aos EUA — foi recebida de forma negativa.
Mesmo assim, Tarcísio avaliava necessária uma “costura de paz”, citando possíveis perdas de mais de 40 mil empregos em São Paulo por causa das tarifas norte-americanas. Ele tinha presença prevista num evento em Brasília com o ministro Gilmar Mendes nesta semana, visto por aliados como ponto inicial para retomar o diálogo, mas não havia reunião reservada agendada.
Cenário político e reação à prisão
A decisão de Moraes frustrou a articulação. Nas redes sociais, Tarcísio chamou a prisão de “absurda” e afirmou que Bolsonaro “foi julgado e condenado muito antes de tudo isso começar”. Qualquer encontro futuro entre os dois dependerá agora de autorização do STF.
A ausência do governador no ato bolsonarista de domingo (3) na avenida Paulista foi criticada publicamente, mas dirigentes do PL avaliaram que o distanciamento poderia facilitar futuras negociações com o Judiciário.
Divisões internas e futuro da anistia
A movimentação foi conduzida sem a participação do deputado Eduardo Bolsonaro, de quem Tarcísio procura manter distância. Parte do PL defende o isolamento do parlamentar para preservar a interlocução com o Supremo.
O projeto de anistia continua sob pressão da base bolsonarista, mas enfrenta resistência entre ministros, que questionam se crimes como tentativa de golpe podem ser perdoados. O episódio reforça a dificuldade de qualquer acordo imediato entre o grupo de Bolsonaro e o STF após a nova medida restritiva contra o ex-presidente.
